Vivemos numa sociedade caracterizada por rápidas mudanças. Acho interessante a metáfora de Toffler (“A terceira vaga”, Livros do Brasil) quando considera que as grandes alterações registadas ao longo da história ocorreram de acordo com três ondas civilizacionais. Nesta perspectiva estamos hoje em plena 3ª vaga, dominada pelo desenvolvimento (e poder) da informação.
Diversidade e novidade são duas variáveis presentes no processo de mudança das sociedades. Na “era da informação” é interessante verificar que a diversidade e a novidade também atingiram os media, acrescentando novas dimensões às já existentes, graças à informática, às telecomunicações e à sua combinação com o avanço tecnológico no domínio do audio-visual. Esta alteração aumentou o ritmo da mudança e teve vários efeitos dos quais se destacam a criação de um tecido nervoso à escala mundial, por onde circula cada vez mais informação a um ritmo crescente; generalização dos self-media; e a emergência do multimedia, como resultante sinergética dos efeitos sistémicos dos media existentes.
Edgar Morin, em “As grandes questões do nosso tempo”, chamou de “nevoeiro informacional” ao conjunto de três filtros que nos impedem de visibilizar convenientemente a sociedade. Estes filtros são o excesso de informação (veja-se por exemplo o crescimento do número de livros, jornais, revistas nos últimos anos); a sub-informação a e pseudo-informação.
De facto, na actualidade e na sociedade de informação em que vivemos, constata-se que grande parte da informação que chega aos cidadãos é veiculada pelos media. As regras pelas quais estes se regem são também regras de competitividade comercial (como a publicidade ou as audiências), ou mesmo outras menos nobres de condução de massas. No entanto toda essa informação acaba por “passar” pelas mentes dos indivíduos. A capacidade de selecção da informação a reter não é igual para todos. Tenhamos também a consciência de que, da informação veiculada em catadupa por um qualquer órgão de imagem e som, só uma parte muito pequena fica retida. A única forma, então, de gerar uma efectiva mudança de atitudes será através de um processo duradouro, cuidado e adaptado às atitudes e aos comportamentos que se deseja incutir, bem como à população alvo.
O processo de aprendizagem deve ser preferencialmente orientado para os valores e não para os dogmas. Mas como fazer?
Por sua vez, considero que o tal “nevoeiro informacional”, nas suas 3 componentes, pode influenciar o debate e as acções sobre o ambiente, veja-se o caso das alterações climáticas:
As alterações climáticas são hoje em dia um dos principais problemas sociais do séc. XXI e, como tal, a maioria da população reconhece a existência dele e a necessidade de resolução. O Protocolo de Quioto é um bom instrumento a nível mundial para combater este problema. Um dos países que não assinou este acordo foi o EUA em boa parte devido aos fortes interesses da indústria do petróleo. As três componentes do tal “nevoeiro informacional” estão neste caso presentes: por um lado existe um excesso de informação sobre o assunto, o que pelo menos teve a vantagem de fazer com que uma maioria muito significativa da população reconheça este problema; mas por outro lado, são poucas as pessoas que sabem efectivamente o que fazer para o combater, ou do ponto de vista dos políticos/decisores muitas vezes não conhecem a realidade do seu próprio país. Em simultâneo existe muita informação falsa, por exemplo, há quem defenda que as alterações climáticas não passam de uma mera teoria de algumas “mentes”, tentando fazer passar a ideia que o consumo de petróleo/combustíveis fósseis não tem relação com o problema em causa.
Enfim, nos últimos anos, parece generalizada a ideia de que a Escola não formou adequadamente, em termos ambientais, os cidadãos que se encontram hoje em idade activa, sendo notória a necessidade de preparar as crianças e os jovens no sentido de um desenvolvimento sustentável.
Em certa medida, a sociedade portuguesa está numa situação em que é possível verificar a coexistência da 2ª e da 3ª vaga de Toffler. Por outras palavras, existe ainda uma parte considerável da população que tem uma posição de alguma arrogância do Homem perante a natureza, verifica-se que há uma elevada dependência das fontes energéticas fósseis e o poder, económico e político, é também muito centralizado. Em contrapartida, emerge na nossa sociedade uma ideia de evolução controlada e de respeito pela natureza. Mas, para além da coexistência destas duas vagas, verifica-se um elevado nível de “nevoeiro informacional”
O facto do processo de mudança ser caracterizado pela transitoriedade, novidade e diversidade vem reforçar o papel da educação ambiental como um meio propício à criação de oportunidades com vista a uma educação que desenvolva competências ambientais no que se refere aos actores do futuro. Como cidadãos, as crianças e os jovens devem aprender a tomar decisões relativas ao ambiente e a estar conscientes relativamente à tomada de certas decisões políticas que podem ter consequências ambientais. A educação ambiental pode ser desenvolvida através de actividades/experiências educativas que preparem as crianças e jovens para a vida, através da compreensão dos principais problemas do “mundo moderno”. Por sua vez, a educação ambiental deve ser uma educação de carácter permanente, geral, adaptada às mudanças que se produzem num mundo em rápida evolução.
Sendo a escola o lugar privilegiado das aprendizagens, onde se devem adquirir valores e promover atitudes e comportamentos “pró-ambientais”, torna-se urgente uma intervenção eficaz, ao nível da educação, que na perspectiva de desenvolvimento sustentável inverta a tendência actual, comprometedora da existência da própria espécie humana.
Mas, face a tudo isto os agentes no processo educativo devem assumir um papel interveniente, mas em que sentido? E como reagir perante a mediatização?
Uma forma interessante de promover educação ambiental num contexto de uma “sociedade em mudança” seria a de criar mecanismos que através da escola (em contexto do currículo formal ou do não formal) promovessem e/ou intensificassem a reflexão, a investigação e a inovação. Tenho ficado com a sensação que os alunos têm sido “treinados” para serem “máquinas de repetição” daquilo que a escola e os professores lhes mostram/ensinam, ficando pouca margem para a inovação, o que tem como natural consequência a fraca capacidade de se adaptarem a novas situações.
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