sexta-feira, 30 de março de 2007

A Mata de Albergaria, uma importante reserva biogenética da Europa

(PNPG, Prado Amarelo. Foto JG)

Criado em 1971, o Parque Nacional da Peneda-Gerês localiza-se no Alto Noroeste de Portugal, com uma área que se alonga em ferradura por cerca de 72000 hectares. Na sua área engloba territórios dos concelhos de Melgaço, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Terras de Bouro e Montalegre.

O nosso único Parque Nacional localiza-se na zona de fronteira das regiões biogeográficas eurosiberiana e mediterrânica. Este facto determina que espécies da flora mediterrânica como, por exemplo, o sobreiro (Quercus suber), o medronheiro (Arbutus unedo), o loureiro (Laurus nobilis) e a gilbardeira (Ruscus aculeatus), testemunhos de migrações ocorridas em tempos passados mais quentes do que os actuais, coabitem com espécies eurosiberianas como o carvalho-alvarinho (Quercus robur), teixo (Taxus baccata), padreiro (Acer pseudoplatanus), azevinho (Ilex aquifolium) e aveleira (Corylus avellana).

(PNPG, Mata de Albergaria. Foto JG)

A cobertura vegetal do PNPG encerra espécies de elevado valor florístico, quer pelo seu estatuto de conservação, quer pelo seu estatuto biogeográfico, nomeadamente espécies endémicas, lusitânicas e ibéricas, e espécies raras ou ameaçadas da nossa flora, como, por exemplo, o feto-do-gerês (Woodwardia radicans), o narciso-trombeta (Narcissus pseudonarcissus subsp. nobilis), o lírio-do-gerês (Iris boissieri) e a arméria (Armeria humilis subsp. humilis). Toda a sua biodiversidade constitui um património natural, biológico e genético de um valor incalculável que deve ser transmitido às gerações vindouras.

Um dos elementos de maior destaque é a Mata de Albergaria, um dos mais importantes bosques desta parque nacional. É constituída predominantemente por um carvalhal secular, dominado pelo carvalho-alvarinho (Quercus robur), que inclui espécies da fauna e flora geresiana. Guarda também um troço da Via Romana (Geira) com as ruínas das suas pontes e um significativo conjunto de marcos miliários.

(PNPG, Marcos miliários . Foto JG)

A baixa presença humana nesta mata não rompeu, até há poucos anos, o frágil equilíbrio do seu ecossistema, cuja riqueza e variedade contribuíram para a sua classificação pelo Conselho da Europa, como uma das Reservas Biogenéticas do Continente Europeu. É também, nos termos do Plano de Ordenamento do Parque, classificada como Zona de Protecção Parcial da Área de Ambiente Natural.
Nos últimos anos o peso humano tornou-se excessivo, em particular nos meses de Verão, e a regeneração dos componentes naturais passou a fazer-se mais lentamente. De certa forma são já visíveis alguns efeitos nocivos desta pressão.


(PNPG, Mata de Albergaria. Foto JG)

Para além da pressão humana, outros factores estão a por em risco o património natural do PNPG, entre os quais são de destacar: o fogo; o sobrepastoreio, praticado pelo gado caprino, o qual compromete a regeneração de algumas espécies de vegetação autóctone; a prática de desportos aquáticos motorizados nas albufeiras abrangidas pelo Parque.

A Mata de Albergaria é sem dúvida um dos tesouros naturais de Portugal.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Fiel amigo, até quando?


O bacalhau é um alimento milenar.
Originário das águas frias dos mares que circundam o Pólo Norte, existem registos que mostram a existência de fábricas para o seu processamento na Islândia e na Noruega desde o século IX. Os Vikings são considerados os pioneiros na sua descoberta pois a espécie abundava nos mares que navegavam. Como não tinham sal, apenas secavam o peixe ao ar livre, até que perdesse quase a quinta parte de seu peso e endurecesse como uma tábua de madeira, para ser consumido aos pedaços nas longas viagens que faziam pelos oceanos.

O mercador holandês Yapes Ypess foi o primeiro a fundar uma indústria de transformação na Noruega sendo, por isso, considerado o pai da comercialização do peixe industrializado. A partir de então, a procura do peixe passou a crescer, o que proporcionou o aumento do número de barcos pesqueiros e de indústrias pela costa norueguesa, transformando a Noruega no principal pólo mundial de pesca e exportação do bacalhau.
Dá que pensar: o bacalhau (Gadus morhua) já foi, em tempos, um alimento muito barato. É interessante verificar que o bacalhau de má qualidade era utilizado na alimentação dos escravos e o excelente era importante no comércio entre a Amér
ica e a Europa. Por exemplo, em Salem, o comércio de bacalhau era das actividades económicas mais importantes no século XVII, de tal forma que, quando o seu tribunal - criado em 1692 - interrogou centenas de mulheres acusadas de bruxaria e enforcou 19 delas, o selo do tribunal era um bacalhau.
O bacalhau foi uma revolução na alimentação. Deve-se ter em conta que os aparelhos de refrigeração/congelação apenas apareceram no século XX. Até essa data, era frequente a degradação dos alimentos. Mas, o método de salgar e secar o alimento, além de garantir a sua perfeita conservação mantinha todos os nutrientes e apura
va o paladar. A carne do bacalhau ainda facilitava a sua conservação salgada e seca, devido ao baixíssimo teor de gordura e à alta concentração de proteínas.
Um produto de tamanho valor sempre despertou o interesse comercial dos países com frotas pesqueiras. Em 1510, Portugal e Inglaterra firmaram um acordo contra a França. Em 1532, o controlo da pesca do bacalhau na Islândia desencadeou um conflito entre ingleses e alemães conhecido como as "Guerras do Bacalhau".

Há vários anos que os portugueses introduziram nos hábitos alimentares este peixe. Descobrimos o bacalhau no século XV, na época das grandes navegações. Na época eram necessários produtos que não se alterassem muito de modo a suportar as longas viagens. É curioso verificar que em 1596, no reinado de D. Manuel, se mandava cobrar o dízimo da pescaria da Terra Nova nos portos de Entre Douro e Minho. Hoje, Portugal é o maior consumidor mundial de bacalhau.
Existem 1000 maneiras de fazer bacalhau! Pois é, esta espécie está a ser vítima da sua popularidade em cozinhas de todo o mundo.
A pesca excessiva tem conduzido a uma drástica redução dos cardumes de bacalhau. Nas últimas décadas, a modernização da indústria pesqueira levou a que a captura fosse mais eficiente, o que acelerou o processo de extinção.


Actualmente, não são só os cardumes que estão menores, mas também os peixes, pois a captura é tão elevada que não há tempo para que os peixes cresçam.
A solução parece óbvia, reduzir ou mesmo parar com a captura deste peixe. Para a Organização Internacional de Exploração dos Mares (CIEM) os stocks de bacalhau podem acabar dentro de 15 anos e proibir a sua captura é a única oportunidade de recuperarem. Segundo esta organização a capacidade reprodutiva do bacalhau é reduzida e a mortalidade causada pela pesca indica uma redução insustentável do stock. Não há opção, é urgente a abolição da pesca de bacalhau no Atlântico Norte por considerar que está em causa a sobrevivência da espécie.
Só assim se conseguirá evitar a extinção do nosso “fiel amigo”…

Exóticas e perigosas !

A invasão de um habitat por espécies exóticas, pode ser um dos principais factores de ameaça do ecossistema aí existente.

São múltiplas e crescentes as actividades humanas que estão na origem de profundas alterações nos sistemas biológicos. São destacar a expansão da agricultura em detrimento dos habitats naturais; a expansão urbana e industrial; a perda e fragmentação dos habitats naturais, alterações dos ciclos minerais, em particular o azoto; poluição do solo, do ar e da água; alterações climáticas; e invasão por espécies exóticas. De entre todas estas alterações, a invasão de um habitat por uma espécie exótica que conduz, frequentemente, à ocupação e domínio do novo território, é das situações mais difíceis de controlar e restaurar.

O problema coloca-se quando as espécies exóticas se tornam invasoras, ameaçando a sobrevivência das espécies indígenas, e não forçosamente pela introdução controlada de espécies exóticas. As espécies invasoras são pois aquelas que têm a capacidade de competir e, frequentemente, substituir, outras espécies nos seus habitats naturais, adaptando-se aos novos ambientes, distribuindo-se rapidamente para além dos locais onde foram introduzidas e passando a interferir com o desenvolvimento natural das comunidades invadidas.

As espécies exóticas invasoras tornaram-se tão familiares que muitas vezes são identificadas como espécies indígenas. Para muitas pessoas certas espécies são dotadas de uma beleza particular, facto que contribui para agravar este problema.

A invasão biológica por espécies exóticas é um processo que podemos observar de forma crescente em Portugal, e que ocorre em todo o Mundo em proporções preocupantes. No limite, podemos estar a assistir a uma “uniformização global”, ou seja, aos poucos, as invasões biológicas estão a promover a substituição de comunidades com elevada biodiversidade por “comunidades” monoespecíficas de espécies invasoras, ou com biodiversidade reduzida. Além disso, promove-se uma redução da variabilidade genética existente em cada região.

(fonte: http://www.millenniumassessment.org)

Em causa está a biodiversidade global e os serviços dos ecossistemas que suportam a vida. Estas espécies, mesmo quando pouco representativas, colocam sempre problemas de conservação, porque podem alterar os recursos disponíveis e a estrutura e o funcionamento do ecossistema, por exemplo, através da alteração das propriedades químicas do solo, do ciclo de nutrientes, do fogo e do regime hídrico, aumentando a competição, que pode impedir ou reduzir a regeneração das espécies nativas ou conduzir à sua exclusão.

Muitas espécies exóticas provocam alterações importantes nos ecossistemas em Portuga: Arundo donax (cana) originária da Ásia, Oxalis pes-caprea (azeda) originária da África do Sul, Pittosporum undullatum (árvore-do-incenso) originária do Sudeste da Austrália, Aillanthus altissima (ailanto) originária da China, Hakea salicifolia (salgueirinha) originária da Austrália, Hakea sericea (espinheiro-preto) originária da Austrália e da Tasmânia, Myoporum tenuifolium (mioporo) originária da Austrália Erygeron karvinskyanus (margacinha-dos-muros) rupícola, originária da Argentina.

Em Portugal, muitas das espécies que se comportam hoje como invasoras foram introduzidas em épocas passadas com objectivos que passaram pela fixação de areias (ex. chorão-das-praias, acácia-de-espigas), estabilização de taludes (ex. mimosa), utilização da madeira (ex. mimosa, austrálias) ou dos taninos (ex.acácia-negra), sebes vivas (ex. háquias), alimentação (ex. lagostim-vermelho) ou simplesmente ornamentais (ex. espanta-lobos, erva-das-pampas).

Nas áreas do litoral, o chorão (Carpoprotus edulis) oriundo da África do Sul é a espécie invasora mais espalhada. Em Portugal a sua utilização é severamente restringida pelo DL 565/99 de 21 de Dezembro. No entanto ao longo do litoral são inúmeros os exemplos de utilização do chorão para fins ornamentais, ou alegadamente para fixação das dunas.

Esta espécie tem como principais características um intenso crescimento, formando rapidamente extensos tapetes, os quais substituem a vegetação indígena. Promove ainda uma acidificação dos solos.

A solução para este problema reside principalmente na prevenção, i.e., evitar a introdução indiscriminada e descuidada de certas espécies.

Chorão

Bibliografia:
www.uc.pt/invasoras
www.icn.pt
www.naturlink.pt

domingo, 25 de março de 2007

Desflorestação e agricultura

A conversão de zonas florestais e não cultivadas para fins agrícolas pode gerar alguns benefícios, resultantes da produção de alimentos nesses locais. Mas considero que as vantagens que daqui poderão resultar são limitadas e a resultam apenas a curto prazo.

A destruição das florestas tem-se tornado um assunto de particular preocupação devido à potencial perda de várias espécies de plantas e animais, que habitam as florestas tropicais de todo o mundo. No caso das florestas tropicais e, embora estas cubram apenas cerca de 7% da Terra, contêm, pelo menos, metade das espécies de animais e plantas, muitas das quais ainda nem sequer foram identificadas. Assim, a conversão de zonas florestais e não cultivadas para fins agrícolas tem uma consequência directa na redução da biodiversidade. De igual forma, os serviços de suporte e de regulação dos ecossistemas são alterados. Destaco o papel na formação do solo, na regulação do clima e da água, uma vez que se verifica uma intervenção directa no ciclo hidrológico.

A destruição de florestas modifica a superfície terrestre, e assim afecta o clima ao alterar as quantidades de energia solar que são absorvidas e reflectidas.

Relativamente à relação entre florestas e alterações climáticas pode ser analisada por várias perspectivas: se por um lado as florestas são uma solução do problema, pois são importantes sumidouros de CO2, por outro lado, podem contribuir para o problema, uma vez que a desflorestação implica a emissão de gases de efeito de estufa.

Para além das consequências referidas, a conversão de áreas para fins agrícolas pode conduzir ao empobrecimento do solo, e no limite à desertificação. No caso da prática de uma agricultura intensiva, a utilização de pesticidas e de fertilizantes terá consequências graves para os solos.

Em suma, as consequências são inúmeras, e manifestam-se a uma escala regional e global, pelo que a conversão de zonas florestais para fins agrícolas tem de ser muito bem ponderada, aliada a medidas de uso sustentável do solo, como a prática de uma agricultura biológica.

A sobrevivência do Homem está dependente da variabilidade genética da biodiversidade.

De toda a diversidade de formas biológicas, apenas uma dúzia de espécies de animais foi domesticada pelo homem, de onde provem toda a proteína de origem animal que consumimos. Do mesmo modo, apenas cerca de 1% das plantas existentes são utilizadas para a alimentação humana. Então porque é importante mantermos a biodiversidade da vida dita “selvagem”?

A humanidade sempre dependeu dos serviços prestados pela biosfera e pelos seus ecossistemas. Para mais, a biosfera é em si própria o produto da vida na Terra. A composição da atmosfera e do solo, a circulação dos elementos pelo ar e pelos cursos hídricos, e muitos outros bens e serviços ecológicos são o resultado de processos vivos, e todos são mantidos e reabastecidos por ecossistemas vivos.

Um ecossistema é um complexo de comunidades de plantas, animais e micro-organismos e do ambiente não-vivo interagindo como uma unidade funcional. A espécie humana é uma parte integral dos ecossistemas. Os ecossistemas fornecem uma variedade de benefícios para o Homem, incluindo serviços de produção, de regulação, culturais e de suporte.

Os conceitos de biodiversidade e de ecossistema estão intimamente relacionados.

A diversidade é um aspecto estrutural dos ecossistemas, e a variabilidade entre os ecossistemas é um elemento da biodiversidade. Os produtos da biodiversidade incluem muitos dos serviços produzidos pelos ecossistemas (como alimento e recursos genéticos), e as mudanças na biodiversidade podem influenciar todos os outros serviços que os ecossistemas prestam.

A uma escala global as espécies contribuem para a reciclagem de elementos essenciais à vida, tais como água, oxigénio e carbono; para a formação do solo entre outros serviços de suporte de vida na Terra. Este tipo de serviços constitui a base de todos os outros serviços de ecossistemas.

É verdade que apenas uma dúzia de espécies de animais foi alvo de domesticação, e são a fonte da proteína animal que hoje consumimos, e apenas 1% das plantas existentes são utilizadas na alimentação humana. Poder-se-á dizer então que estamos directamente dependentes de um reduzido número de espécies. Este facto reforça a necessidade de conservar a biodiversidade da “vida selvagem”. Porquê? A diversidade genética da biodiversidade é a resposta.

Todas as culturas agrícolas para alimentação, incluindo o milho, o trigo e a soja, dependem de novo material genético existente na natureza, para que as culturas se mantenham saudáveis e produtivas. Assim, agricultores e criadores dependem da diversidade genética das culturas e do gado, para aumentarem a produção e para ser possível responder a alterações das condições ambientais. Variedades resistentes encontradas na natureza podem ser utilizadas ou cruzadas com as variedades domésticas, para garantir maior resistência e produtividade. Por exemplo, em 1960 foi encontrado na natureza um "parente" do milho, resistente a 4 das 8 maiores doenças que o afectam nos EUA. Uma vez que este cereal é a matéria prima para a produção de uma grande variedade de substâncias, incluindo rações para os animais domésticos, a utilização desta variedade de milho permite manter baixos os preços dos produtos à base do cereal, quando as pragas atacam as culturas.

A redução da biodiversidade conduz a um decréscimo da variabilidade genética e, tal como uma pessoa doente fica mais sujeita a certas infecções, é necessário conservar a biodiversidade para assegurar a saúde dos serviços prestados pelos ecossistemas, entre os quais se destaca a alimentação da espécie humana. A nossa sobrevivência depende da variabilidade genética da biodiversidade!

quinta-feira, 22 de março de 2007

22 Março - Dia Mundial da Água


As Nações Unidas, através da resolução A/RES/47/193, de 22 de Dezembro de 1992, declararam o dia 22 de Março de cada ano como o Dia Mundial da Água. Este dia tem sido marcado, desde 1993, com várias iniciativas, nacionais e internacionais, com o intuito de sensibilizar o público em geral para a necessidade de conservar os recursos hídricos e para algumas questões em particular, também relacionadas com a água.

É acima de tudo uma oportunidade para reforçar a consciência da transcendente importância deste recurso para o nosso futuro colectivo.


(Fonte: Water, a shared responsability, ONU)

segunda-feira, 19 de março de 2007

Emissões de CO2, por país, em tempo real

A não perder…

…emissões de CO2 em cada país em tempo real !...


Vários estudos referem que estaremos sujeitos a, pelo menos, 50 anos de alterações climáticas. Não podendo evitá-las, temos de nos adaptar aos seus inevitáveis impactos. Esta adaptação está relacionada com a redução da vulnerabilidade dos sistemas humanos e naturais às alterações climáticas. Na conservação da biodiversidade, isto deve ser complementado com outras actividades que reduzam as pressões resultantes de, por exemplo, fragmentação de habitats, modificação do uso dos solos, colheitas em excesso, poluição, expansão urbana e invasões de espécies não indígenas. O “princípio da precaução” deve constituir um pressuposto chave neste contexto. As actividades que promovam a adaptação da biodiversidade às alterações climáticas podem, também, contribuir para a sua conservação, uso sustentável e gestão sustentável do solo.

A conservação da biodiversidade e a manutenção da estrutura e funções dos ecossistemas podem contribuir para as estratégias de adaptação ao clima através da manutenção da resistência dos mesmos, minimizando assim a sua vulnerabilidade às alterações climáticas.

No site http://www.breathingearth.net/ é possível acompanhar, em tempo real, as emissões de Co2 por país, assim como a sua natalidade e mortalidade.

domingo, 18 de março de 2007

"Ecosystem Approach ..."

Segundo o “Millenium Ecosystem Assessment (2005)” 15 dos 24 serviços dos ecossistemas avaliados estão em declínio, incluindo:

  • fornecimento de água potável;
  • produção de reservas de pesca nos mares;
  • número e qualidade dos locais com valor espiritual e religioso;
  • capacidade de auto-despoluição da atmosfera;
  • auto-regulação dos desastres naturais;
  • capacidade dos ecossistemas agrícolas assegurarem o controlo de pestes.


É preocupante constatar que:

  • A partir de 1945, mais terras foram convertidas para a agricultura que nos séculos XVIII e XIX juntos.
  • As alterações ao uso do solo, e em menor grau a sobreexploração, a poluição a as espécies invasoras, são as principais causas de perda de biodiversidade actualmente.
  • A taxa de extinção de espécies aumentou 50 a 1.000 vezes em comparação às taxas do registo fóssil.

  • Cerca de 60% dos serviços dos ecossistemas examinados estão a ser degradados, incluindo recursos pesqueiros, regulação do ciclo hídrico, protecção do solo e capacidade depuradora.
  • O valor económico total associado a uma gestão mais sustentável dos ecossistemas é geralmente maior que o valor associado à sua conversão para uso intensivo.

Mas então o que fazer? Qual a melhor estratégia?

De acordo com a Convenção da Diversidade Biológica (CDB), deve-se optar pelo “Ecosystem Approach” que corresponde a uma estratégia para gestão integrada do território, da água e dos organismos vivos que promove a conservação e a utilização sustentável de um modo equitativo.

Esta abordagem permite cumprir os objectivos da CDB. Baseia-se na aplicação de metodologias científicas focadas nos níveis de organização biológica que compreende processos, funções e interacções entre os organismos e o seu ambiente.

Um factor muito importante: reconhece que as pessoas, com a sua diversidade cultural, são uma componente integral dos ecossistemas.

O “Ecossystem Approach” foi reconhecido em Joanesburgo (World Summit on Sustainable Development , 2002) como um importante instrumento para alcançar um desenvolvimento sustentável e o alívio da pobreza (CBD Decision VII-11). As pessoas e a biodiversidade dependem de ecossistemas saudáveis; estes têm que ser avaliados de modo integrado, acima de barreiras artificiais.


A abordagem aos ecossistemas deve ser participativa e requer perspectivas de longo prazo, baseadas em estudos de biodiversidade.

Considero então que é fundamental:

1. Redução da taxa de perda de biodiversidade, incluindo: (i) biomas, habitats e ecosistemas; (ii) espécies e populações; e (iii) diversidade genética;

2. Promoção do uso sustentável da biodiversidade;

3. Tratar as principais ameaças à biodiversidade, incluindo as que resultam de espécies invasoras, alterações climáticas, poluição e alterações de habitats;

4. Manutenção da integridade dos ecossistemas e fornecimento de bens e serviços assegurados pela biodiversidade dos ecossistemas, como apoio ao bem estar humano;

5. Protecção do conhecimento tradicional, inovações e práticas;

6. Assegurar uma justa e equitativa partilha de benefícios resultantes do uso de recursos genéticos; e

7. Mobilização de recursos técnicos e financeiros, especialmente em países em desenvolvimento, em particular em países mais desfavorecidos e pequenas ilhas, e países com economias de transição.

Serviços e Valores…

Nos últimos anos, o desaparecimento de espécies e de áreas naturais, como consequência da actividade humana, tem ocorrido a uma velocidade sem precedentes. Mas que consequências terá esta perda?

A resposta a esta questão pode ser resumida em duas palavras: serviços e valores.

Os serviços dos ecossistemas são os benefícios que as pessoas adquirem dos ecossistemas. Incluem serviços de produção, de regulação, de suporte, e culturais.


Os serviços de ecossistemas incluem produtos como alimento, combustível, e fibra; serviços de regulação como regulação do clima e controle de doenças; e benefícios não materiais como benefícios espirituais ou estéticos.Para além disso, o oxigénio que respiramos é produzido pelas plantas, as mesmas que constituem o alimento base de todas as cadeias alimentares; o ciclo da água depende da biodiversidade; a decomposição e reciclagem da matéria orgânica e a consequente manutenção da fertilidade do solo são feitas por seres vivos; cerca de 1/3 do alimento dos seres vivos depende da polinização pelas abelhas (asseguram a reprodução das plantas); a produtividade natural dos ecossistemas ajuda a manter espécies exploradas comercialmente, etc…


Quanto aos valores é também inegável o papel da biodiversidade, em diversas áreas:

Benefícios económicos - i) rendimento directo por venda de produtos; (ii) fornecimento de matérias-primas a outras actividades; (iii) valor indirecto de fornecimento de serviços, e.g. protecção costeira por dunas e mangais.

Benefícios sociais - emprego, segurança, saúde, qualidade de vida, segurança social, amenidades derivadas da presença de vida animal, etc.

Benefícios ecológicos - (i) valores futuros, potencial não reconhecido da biodiversidade para uso futuro; e (ii) valores territoriais, dependência da biodiversidade em relação a determinadas áreas. e.g. aves dependem de áreas de alimentação nas suas rotas migratórias.



Por sua vez, transversal aos serviços e aos valores estão as motivações éticas e culturais. Estas relacionam-se sobretudo com a nossa consciência comum e com a nossa identidade biológica enquanto parte integrante da natureza. Teremos o direito de eliminar outros seres vivos com uma história evolutiva de milhões de anos, e de deixar aos nossos descendentes um planeta irremediavelmente empobrecido?

Enfim, a biodiversidade não só nos fornece serviços directos bem como nos garante um sistema de suporte de vida. A melhor forma de a preservar é não esquecer que "Não herdámos a Terra dos nossos pais, apenas a pedimos emprestada aos nossos filhos ...".

sexta-feira, 16 de março de 2007

Dia Mundial da Floresta

Árvore verde,
Meu pensamento
Em ti se perde.
Ver é dormir
Neste momento.

Que bom não ser
'Stando acordado !
Também em mim enverdecer
Em folhas dado !

Tremulamente
Sentir no corpo
Brisa na alma !
Não ser quem sente,
Mas tem a calma.

Árvore Verde (poesias inéditas), Fernando Pessoa


O Dia Mundial da Árvore ou Dia Mundial da Floresta festeja-se em 21 de Março.

A comemoração oficial do Dia da Árvore teve lugar pela primeira vez no estado norte-americano do Nebraska, em 1872. John Stirling Morton conseguiu induzir toda a população a consagrar um dia no ano à plantação ordenada de diversas árvores para resolver o problema da escassez de material lenhoso.

A Festa da Árvore rapidamente se expandiu a quase todos os países do mundo, e em Portugal comemorou-se pala primeira vez a 9 de Março de 1913.

Em 1971 e na sequência de uma proposta da Confederação Europeia de Agricultores, que mereceu o melhor acolhimento da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), foi estabelecido o Dia Florestal Mundial com o objectivo de sensibilizar as populações para a importância da floresta na manutenção da vida na Terra.

Em 21 de Março de 1972 - início da Primavera no Hemisfério Norte - foi comemorado o primeiro DIA MUNDIAL DA FLORESTA em vários países, entre os quais Portugal.



Carvalho-negral

As Florestas constituem um valioso recurso natural renovável gerador de múltiplos bens e serviços da maior relevância para o ambiente, para a economia e para a qualidade da vida dos cidadãos.

As suas funções ligadas ao recreio, lazer e turismo assumem importância crescente numa sociedade cada vez menos rural e mais urbana, em que os cidadãos vivem em espaços agressivos e artificiais.

As florestas constituem ainda, nomeadamente as mais antigas, um importante património cultural, pela sua história, pelo seu contributo para a paisagem, pelas árvores notáveis que aí se encontram, pelo património arqueológico que tradicionalmente lhes está associado, pela sua biodiversidade, pelo seu valor científico e pedagógico, pela sua toponímia e pelo património aí construído. Citam-se, a título de exemplo, a Serra de Sintra, a Mata da Arrábida, a Mata do Buçaco, o Gerês e a floresta Madeirense. As árvores e as florestas com a sua beleza, diversidade e simbologia são igualmente fonte fecunda e inesgotável de inspiração e criação artística para o homem. A procura de captar o "espírito da floresta" ou o "espírito da árvore" assumiu as mais diversas expressões culturais nomeadamente na prosa, na poesia, na música, na pintura, na escultura ou na arquitectura.

Assiste-se hoje nas sociedades mais desenvolvidas à valorização crescente das funções culturais, ambientais e recreativas das florestas.

As florestas actuais resultam de um longo processo evolutivo de milhões de anos - evolução genética e alterações climáticas - mas desde que o Homem surgiu há cerca de 1 milhão de anos foi ele o grande agente transformador da área e composição dos espaços florestais primitivos.

Além disso, as florestas constituem um dos principais reservatórios de carbono da biosfera, uma vez que ocupam uma proporção considerável da componente emersa da Terra, participando activamente nas trocas de carbono com a atmosfera através da fotossíntese (assimilação de CO2) e da respiração (devolução de CO2 à atmosfera) e proporcionando uma residência média do carbono assimilado superior à maioria dos restantes tipos de ocupação do solo.


sábado, 10 de março de 2007

Crinas ao vento entre serras e baldios...

Garranos selvagens do PNPG (foto: JG)

Garrano é cavalo de raça.

Gigante de força….

Velho resistente com milhares de anos de idade.

Património cultural e genético a preservar.

O rebelde primitvo do norte.

Núcleo de Garranos do PNPG (foto: JG)

Vulgarmente descrito como um “cavalo pequeno mas robusto”, o garrano é um animal autóctone peninsular, e constitui com os seus 25 mil anos de idade uma das raças mais antigas do mundo. De facto, o garrano parece ter sido desde o início do quaternário um cavalo autóctone peninsular.

Parente próximo dos póneis do norte da Europa, o garrano é característico das regiões montanhosas, frias e húmidas, tendo evoluído na sequência do avanço e recuo dos glaciares do Paleolítico médio. Fruto da sua particular aptidão, rusticidade e adaptação às variações do clima pós-glacial (de frio e seco a temperado e húmido), o garrano surge assim como o Reliquat da fauna glacial do Paleolítico, sobrevivendo na Península Ibérica, contrariamente ao que sucedeu com muitas outras espécies, como a rena e o bisonte, que se viram obrigadas a emigrar para regiões do norte da Europa. É um animal de pequeno porte (cerca de 1,30 m ao garrote), de extremidades curtas, membros robustos, pescoço grosso, perfil da cabeça recto ou côncavo, crinas fartas e apresentando muito frequentemente pelagem invernal, constituem uma imagem quase fiel do garrano actual, encontra-se representado em numerosas pinturas rupestres do norte da Península Ibérica, como por exemplo, La Pasiega e Altamira, datadas de 20000 a.c..

Bernardo Lima (1913) distingue duas castas ou raças para o tipo Céltico: a Castelhana e a Galiziana, sendo esta constituída na sua totalidade por cavalos garranos de rija têmpera, rufiões por índole. Como animal de elevada rusticidade o garrano surge assim, quer pela sua conformação física, quer pelos seus hábitos comportamentais, como um animal perfeitamente integrado e bem adaptado ao seu meio ecológico, chegando a adquirir até aos anos 60 um grande interesse comercial e utilitário. Com a progressiva mecanização de agricultura foram-se perdendo as suas tradicionais funções. Animal de elevada riqueza pecuária, é ainda considerado como o “rebelde primitivo do norte”.



Núcleo de Garranos do PNPG (foto: JG)


O garrano é, juntamente com o cavalo lusitano e do sorraia, uma das três raças cavalares autóctones portuguesas. Com o seu solar étnico localizado no norte do país, em particular nas regiões montanhosas do Minho e limítrofes de Trás-os-Montes e Galiza, o garrano distribui-se actualmente por toda a região a norte do rio Douro, encontrando-se essencialmente nas zonas mais acidentadas. Fruto da sua particular aptidão como animal tipicamente de montanha, da elevada rusticidade e de uma perfeita adaptação ao meio ambiente, o garrano foi durante muito tempo utilizado para fins agrícolas e/ou de transporte. Com a mecanização da agricultura foram-se perdendo as suas tradicionais funções sendo, nos últimos anos, praticamente criado para abate.

O Parque Nacional da Peneda-Gerês possui um núcleo de garranos, os quais fazem parte da sua fauna autóctone. Poder-se-á considerar que estes animais representam também parte da riqueza pecuária da aldeia de Vilarinho das Furnas, hoje submersa pela albufeira formada pela barragem do rio Homem, uma vez que os animais fundadores foram seleccionados preferencialmente neste local.

Actualmente uma parte significativa do efectivo da raça encontra-se em estado profundamente adulterado. Por isso, é urgente elaborar planos de conservação adequados de modo a preservar esta raça e a sua variabilidade genética. Afinal trata-se de uma parcela importante do nosso património biológico e cultural.

Ainda vamos a tempo?


“Salvem o Lince e a Serra da Malcata”, foi o mote para a mais célebre campanha de conservação da Natureza realizada em Portugal. Passados cerca de 30 anos esta espécie está à beira do fim!

O lince-ibérico (Lynx pardinus) é actualmente considerado o felino mais ameaçado do mundo e encontra-se classificado como espécie Criticamente em Perigo (CR) pelos Livros Vermelhos de Portugal e UICN, onde se incluem as espécies que enfrentam um risco extremamente elevado de extinção na natureza. Também se encontra protegido pela Convenção de Berna (Anexo II) e pela Convenção que regulamenta o Comércio de Espécies Selvagens (CITES - Anexo I A), sendo considerado pela Directiva Habitats como uma espécie prioritária.

É curioso verificar que em 1500 a.C. o lince-ibérico ocupava toda a área entre Portugal e o Cáucaso, confinando-se posteriormente à Península Ibérica, que ocupava na totalidade em meados do séc. XIX, sendo ainda muito comum no sul no início do séc. XX.

Distribuição actual do lince-ibérico (fonte: http://carnivora.fc.ul.pt)

O nome lince poderá ter sido atribuído devido à analogia entre as magníficas capacidades visuais deste animal e as de Linceu, herói da mitologia grega que possuía um olhar de tal modo penetrante que conseguia perfurar pedras.

Na antiguidade clássica os linces eram considerados os guardiões dos locais demoníacos onde o Homem não podia entrar. Mais tarde, na idade média, a imagem do lince deixou de ser conotada com um ser mitológico, passando a ter uma perspectiva materialista. Era considerada como uma espécie de alto valor cinegético e nobreza, e como tal, apenas os reis e grandes senhores o podiam caçar, sendo até a sua carne muito apreciada.

O Lince é uma espécie especializada, dependente dos bosques e matagais densos com pouca presença humana para abrigo, e do coelho-bravo que ocupa quase 100% da sua dieta, a qual pode ser complementada com roedores, aves e crias de cervídeos.

Esta especialização é a principal ameaça à sua sobrevivência pois, nos últimos anos, tem-se assistido a uma acentuada regressão do coelho-bravo e à destruição dos habitats mediterrânicos. O lince é conhecido pela sua territorialidade, ocupando solitariamente uma vasta área de 3 a 5 km2.

A regressão desta espécie em Portugal iniciou-se sobretudo aquando da "campanha do trigo" nos anos 30-40, altura em que o seu habitat foi consideravelmente reduzido. Mais tarde, a mixomatose (anos 60-70) e a febre hemorrágica viral (anos 90) foram responsáveis por uma acentuada regressão das populações de coelho-bravo, principal presa da sua dieta.

Outro dos grandes desequilíbrios induzidos pelo homem foi a destruição de áreas naturais, pelo fogo, ou para plantação de espécies florestais mais rentáveis economicamente como é o caso dos pinheiros e dos eucaliptos. Desde então, as populações desta espécie nunca mais voltaram a recuperar e nos anos 80 temia-se já que apenas existissem 50 indivíduos em território nacional.

Apenas em 1991 é que a preocupação para com a diminuição da população de lince-ibérico em Portugal, levou o ICN a lançar, com o apoio da UE, um projecto de estudo e recuperação desta espécie, o Projecto Liberne.

Temos obrigação de contrariar a tendência regressiva das populações de Lince. É importante aprofundar o conhecimento dessas populações (alguém sabe quantos existem?) e implementar as várias medidas, entre as quais se destacam:

  • definir uma "Região do Matagal Mediterrânico " coincidente com a distribuição potencial do lince, onde deverão ser desenvolvidos programas de conservação de longo-termo;
  • corrigir as políticas florestais, focando a conservação, gestão sustentada e revalorização económica do matagal mediterrânico;
  • declarar Sítios Natura 2000 em todas as áreas de ocorrência e respectivos corredores de ligação e prevenir a sua degradação;
  • evitar a construção de barragens e rodovias em áreas de lince.
Notícias recentes referem que, em 2008 ou 2009, alguns exemplares poderão vir de Espanha para efeitos de reprodução. O objectivo é repovoar a serra de Monchique, onde esta espécie não é avistada há muitos anos.
A construção da barragem de Odelouca irá, muito provavelmente, destruir uma área importante de habitat. Segundo os media os responsáveis pela empreitada poderão gastar até 10 milhões de euros em medidas ambientais. Mas essas medidas conseguirão compensar os prejuízos?


Sendo o lince-ibérico um animal individualista e territorialista, torna-se ainda mais isolado e indefeso, ao contrário dos lobos, que se defendem em alcateias. Compete então ao Homem inverter esta situação.
Mas será que ainda vamos a tempo?





terça-feira, 6 de março de 2007

Já ninguém pode ter dúvidas ...

(Fonte: IPCC, Fev. 2007)

Todos nós contribuímos para o fenómeno do aquecimento global: com a energia que consumimos nas nossas casas; com as nossas opções de transporte; com os resíduos que produzimos…
Mas, se todos somos responsáveis, não podemos ficar à espera que "os outros" resolvam este problema…

A investigação recente confirma a realidade das alterações climáticas, existindo indicações de que as mesmas se têm acelerado. Os 10 anos mais quentes de que há registos ocorreram após 1990. Os actuais níveis atmosféricos de metano e CO2 não têm paralelo nos últimos 650 000 anos. Observa-se uma aceleração da subida do nível do mar. Grande parte dos ecossistemas registará impactos negativos, expressos na fusão dos glaciares e no aumento da acidificação dos oceanos, com possíveis consequências dramáticas para o ambiente.

Existem menos incertezas quanto ao impacto das alterações climáticas. Os níveis críticos de temperatura passíveis de desencadear perturbações em larga escala situam-se na gama prevista para o século em curso, confirmando a necessidade, imposta pela UE, de limitar a 2°C o aumento da temperatura. Estudos recentes apontam para o risco crescente de exceder o objectivo dos 2°C com concentrações volúmicas de gases com efeito de estufa superiores a 450 partes por milhão de equivalentes de CO2 (ppmv eq. CO2).

Prevê-se um aumento das ocorrências meteorológicas extremas, tais como grandes inundações. Os resultados preliminares obtidos para duas bacias hidrográficas proporcionam conclusões coerentes. Os danos totais estimados das inundações nos próximos 100 anos poderão aumentar 40% no caso da bacia do Danúbio Superior e 14% no caso da bacia do Mosa. Os resultados em causa indicam também que a zona com condições óptimas para o turismo balnear, actualmente situada em torno do Mediterrâneo, se transferirá para Norte, embora as condições meteorológicas na Primavera e no Outono melhorem na região mediterrânica. A importância dos impactos dependerá do nível de adaptação dos turistas a estas alterações das condições climáticas.

É vital que se apliquem agora medidas de mitigação contra as alterações climáticas a longo prazo. O aquecimento superior a 2ºC aumentará o risco de roturas ecológicas substanciais e desastres sociais para níveis elevados inaceitáveis. Estamos hoje a assistir a perdas de biodiversidade e de recursos biológicos sequestradores de carbono. São necessários cortes substanciais nas emissões dos gases com efeito de estufa.

A Terra está a mudar, mas acima de tudo, essas alterações são imprevisíveis e irreversíveis.
É tempo de acção…

Desiquilibrios ...

Densidade Populacional

A Terra à noite...
Os problemas ambientais verificados nas últimas décadas têm na sua origem um elevado crescimento populacional a nível mundial aliado a uma actividade económica que assenta em modelos de crescimento que tendem a ignorar os limites impostos pela necessidade de manter o equilíbrio ambiental e social. O consumo de energia é apenas um dos exemplos.
Comparando as duas imagens é inevitável dois pensamentos: somos muitos, mas são poucos os que realmente provocam grandes impactos ...

segunda-feira, 5 de março de 2007

Portugal no ranking dos países da Europa com mais espécies ameaçadas

No artigo anterior fiz referência que Portugal é dos pouco países que está incluído nos Hotspots de biodiversidade.

Mas o panorama é negro, segundo uma notícia do Diário de Notícias, de 2004, 140 animais vertebrados estão ameaçados em Portugal e 29 espécies podem estar mesmo já extintas!


(Diário Notícias, 29 Agosto de 2004)

Hotspots de Biodiversidade

O termo Biodiversidade surgiu pela primeira vez, em 1988, por Edward O. Wilson. Foi apenas em 1992 que, na Convenção da Diversidade Biológica se define efectivamente o conceito de Diversidade Biológica.

É relativamente consensual que a diversidade biológica assume um papel crucial para a espécie humana. Aproximadamente 40% da economia mundial e 80% das necessidades dos povos dependem dos recursos biológicos.

Reflectindo o número e variedade de organismos vivos resultantes da evolução da vida na Terra, a biodiversidade depende duma complexa relação entre factores, de que são exemplo a diversidade de povoamentos, as facetas múltiplas da intervenção humana, as condições edafo-climáticas e os diversos tipos de relevo.

Devido essencialmente a actividades humanas como a agricultura, a pesca, a indústria, os transportes e a urbanização de extensas partes do território, entre outras, mas tendo presente que a extinção de espécies também faz parte de um processo natural de evolução, observa-se que os ecossistemas e as espécies se encontram, a um nível global, cada vez mais ameaçadas, com a consequente diminuição, a taxas consideráveis, da biodiversidade.

Esta tendência terá muito provavelmente profundas implicações no desenvolvimento económico e social da comunidade humana mas, acima de tudo na própria sobrevivência do nosso planeta.

É urgente a conservação da biodiversidade, mas devemos dar prioridade a que locais? A resposta está nos hotspots

O conceito Hotspot foi criado, em 1988, por Norman Myers. A ideia era tentar identificar quais as áreas mais importantes para preservar a biodiversidade na Terra?

Ao observar que a biodiversidade não está igualmente distribuída no planeta, Myers procurou identificar quais as regiões que concentravam os mais altos níveis de biodiversidade e onde as acções de conservação seriam mais urgentes. Essas regiões foram designadas por Hotspots.

Hotspot corresponde a uma área prioritária para conservação, rica biodiversidade e ameaçada no mais alto grau.

É considerada Hotspot uma área que possua, pelo menos 1500 espécies de plantas vasculares (0,5% do total mundial) endémicas, e apresente, no mínimo, 70% de perda do seu habitat original.



Em 1988 Myers identificou 10 Hotspots mundiais. Entre 1996 e 1999 esse número aumentou para 25 áreas, que juntas cobriam (apenas) 1,4% da superfície terrestre e abrigavam mais de 60% de toda a diversidade animal e vegetal do planeta.

Desde Fevereiro de 2005, a lista passou a contar com 34 regiões, que incluem o habitat de 75% dos mamíferos, aves e anfíbios mais ameaçados do planeta. No entanto, somando a área de todos os Hotspots ficamos apenas com 2,3% da superfície terrestre, onde se encontram 50% das plantas e 42% dos vertebrados conhecidos.

Portugal, inserido na região Mediterrânea, é um dos poucos países que integram um hotspot de biodiversidade. Deste modo, o nosso país tem responsabilidades acrescidas na conservação da biodiversidade a nível mundial.

domingo, 4 de março de 2007

Qual é a vossa opinião?


"Não tenho paciência para aqueles economistas que pretendem que nós biólogos provemos com fortes evidências, aqui e agora, o "valor" da biodiversidade e o mal da desflorestação das regiões tropicais. Pelo contrário, deverão ser os «apoiantes da destruição"» a provar ao mundo que uma dada espécie de planta ou animal ou de ecossistema não são úteis ou não têm significado, antes de permitirem que a sociedade os destrua".

H. Iltis, 1988

"Embora a biodiversidade, e a vida em si, sejam a característica mais importante do nosso planeta, sabemos mais sobre o número total de átomos do Universo, do que o total de espécies da Terra. Investimos mais na exploração de planetas distantes do que no conhecimento da abundância e variedade de vida na Terra".

Mayer, 1996