quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Poema do poste com flores amarelas

Vieram os operários, puseram o poste de ferro na berma do passeio
e foram-se para voltar noutro dia.
O poste tinha sido pintado há pouco de verde
e quando lhe batia o sol rutilava como as escamas dos dragões.
Mesmo junto do poste, no passeio, havia uma árvore que dava flores amarelas,
e o vento fez cair algumas flores amarelas sobre o poste verde.
As pessoas que por ali passavam diziam "que chatice de poste",
mas o poeta sorria para as flores amarelas.


GEDEÃO, António, Obra Poética, p. 141

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Mobilidade sustentável!...

Estrada Malveira - Mafra, Out. 2008
Fotografia: JGomes

A importância da educação ambiental para o desenvolvimento

A EA deve ser assumida como uma dimensão essencial da educação que diz respeito a uma esfera de interacções que está na base do desenvolvimento pessoal e social: a da relação com o meio em que vivemos. Esta relação é particularmente importante perante o actual quadro de crise ambiental.
Actualmente a escola não se limita a ser olhada como um espaço de oportunidades escolares e sociais. É também pensada como um espaço destinado a construir cidadãos que se interessam pela «cidade política» dentro e fora dos seus muros (Resende, 2007).
O sociólogo alemão Ulrich Beck (in Cartea, 2006) considera as sociedades ocidentais como “sociedades de risco”. Defende que o mundo contemporâneo constitui uma fonte de perigos, os quais têm surgido progressivamente deste o êxito da civilização moderna, com a aplicação da ciência e da tecnologia e com a transformação e controlo do ambiente para o alegado bem das sociedades. Refere ainda que as “novas ameaças” não se comparam às que resultaram da revolução industrial, e entre estas há que destacar a “crise ambiental” e “a possibilidade do apocalipse nuclear”.
Deste modo, as rápidas e profundas transformações nas sociedades dos dias de hoje reclamam uma resposta objectiva e determinada dos diferentes níveis das actividades humanas. Destas diferentes actividades humanas podemos salientar aquelas que ressalvam o ponto de vista político, económico, social e educativo (Galvão, 2007) e nisto a educação ambiental pode e deve desempenhar um papel crucial.

O crescimento da actividade económica implica uma permanente intensificação da acção humana sobre a natureza, ao nível da exploração dos recursos naturais e da ocupação dos espaços, numa lógica totalitária de crescente apropriação da Natureza pelos humanos, potencializada pelo desenvolvimento tecnológico, o qual possibilita uma crescente capacidade para intervir nos ecossistemas de forma a perturbar significativamente os seus equilíbrios. A crescente consciência dos riscos que tal lógica pressupõe, em termos do esgotamento dos recursos e da degradação dos espaços, tem conduzido à consolidação da noção de "desenvolvimento sustentável" através da qual se procura conceptualizar uma nova visão do crescimento económico e da promoção do bem-estar social. Tal noção procura compatibilizar os processos de exploração dos recursos naturais com a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas de que os próprios humanos fazem parte, não só pela adopção de políticas defensivas auto-limitadoras da capacidade de intervenção humana (protecção da natureza, medidas contra a poluição) mas também pelo desenvolvimento de novas áreas de actividade económica centradas na promoção da qualidade ambiental (mercado do ambiente: indústrias "amigas do ambiente", agricultura "biológica", turismo "ecológico" etc.).
A afirmação da ideia de sustentabilidade como elemento estruturante de um modelo alternativo pressupõe a proposição e consolidação de novos valores ecológicos, fundamento de uma cultura centrada no respeito pelo território como bem colectivo, na prevalência do consumo público sobre o privado e no combate a atitudes e práticas predatórias sobre os recursos naturais. As transformações que daqui decorrem orientam-se para a promoção de uma estreita e desejável cooperação territorial, ampliando as conquistas sociais e ambientais (Carneiro, 2001).
A sociedade ocidental e, em particular, a sociedade portuguesa, tem vindo a tornar-se um espaço cada vez mais multicultural, desejavelmente cada vez mais intercultural (César & Azeiteiro, 2002 in Courela & César, 2006), sob pena da emergência de graves problemas sociais, como a marginalidade e a delinquência, que abalam as possibilidades de aceitação e partilha entre os grupos sociais.
A escola não se limita a reproduzir a organização social vigente; é na escola que também se educam as gerações vindouras e, por isso mesmo, as vivências e práticas que aí se implementam têm repercussões na própria sociedade (Courela e César, 2006).
A escola pode e deve desempenhar um papel decisivo na promoção dos valores constituintes de uma verdadeira cidadania ambiental. Do ponto de vista da gestão do espaço urbano e dos valores que estão subjacentes à tomada de decisões dos promotores públicos e privados, a escola deve ser utilizada como um elemento de referência para o desenvolvimento de novas formas de urbanização que promovam a miscigenação social e cultural. Desta forma, a escola poderá assumir uma nova centralidade num espaço urbano redimensionado em função de novos valores que não privilegiem o transporte individual e a constituição de guetos (bairros sociais, condomínios privados).
Para além da sua centralidade simbólica e espacial, a escola poderá também constituir-se como uma referência ecológica e ambiental, pela qualidade do espaço escolar em si mesmo.
Se a escola for entendida como um elemento estratégico na construção de uma nova cultura de relação com a natureza, então os elementos fundamentais dessa cultura deverão estar presentes no espaço escolar, não apenas em termos da concepção estética desse espaço, mas também no que se refere à sua gestão quotidiana (Carneiro, 2001).
Adquirir uma visão criativa e activa perante a vida pressupõe novas formas de compreender e abordar a realidade, o que implica mudanças significativas quer na forma de pensar o mundo, quer na forma de actuar sobre ele. Estas mudanças tanto afectam as relações entre cidadãos, como as relações entre sociedade e natureza. Neste processo “construtor de um novo futuro”, entre outros elementos, há um que desempenha um papel importante: a Educação, em particular a Educação Ambiental.

De volta...

Após alguns meses de ausência, resultado de excesso do que fazer!.... (dissertação de mestrado!....) pretendo voltar a utilizar regularmente este espaço.

Sempre em prol de um melhor ambiente!...

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

As alterações climáticas e o PNAC 2006 ...


A natureza, muitas vezes considerada, erradamente, como uma fonte inesgotável de vida e de recursos, foi tomada, também, como factor de produção submetido aos desígnios da produção económica; o interesse pela natureza reduziu-a então a uma dimensão utilitarista. O surgimento, recente, de preocupações com a vulnerabilidade e a finitude da natureza, põe em cheque essa visão utilitarista, evidencia a contradição subjacente a esse projecto de sociedade de liberdade e abundância.
Numa sociedade liberal a origem da democracia presume-se residir na sociedade civil porém, na realidade, é o poder concertado dos governos com as corporações que é determinante nas democracias neoliberais. O poder da sociedade civil confina-se à expressão do descontentamento ou da desobediência.
O problema da atmosfera e de alterações climáticas coloca-se, no fim do século XX, analogamente ao problema da terra e de uso do solo, no inicio do século XIX. Quer num caso quer no outro, o que está em causa é a relação do homem com a natureza, em que a actual formação social se confronta com limites naturais, por aí se confrontando com os seus próprios limites, posto que do ponto de vista marxista as esferas humana e natural coexistem e coevoluem. Hoje constatamos que temos de conviver com a nossa atmosfera como temos de conviver com o nosso solo: cuidando das suas reais capacidades de resistência e de regeneração, sem o que a produtividade de um e a habitabilidade do outro se tornarão barreiras ao progresso da sociedade humana ou até à sua sobrevivência a prazo.
Estamos perante um gigantesco desafio porque a economia global está alicerçada no uso das fontes de energia fósseis. O Protocolo de Quioto é um primeiro passo extremamente importante no sentido de reduzir as emissões dos países desenvolvidos. O cumprimento dos compromissos estabelecidos no Protocolo de Quioto não permitem estabilizar a concentração atmosférica dos GEE, de modo a evitar uma interferência antropogénica perigosa sobre o sistema climático. O protocolo prevê que, pelo menos sete anos antes do final do 1º período de cumprimento (2008-2012), as partes iniciem o processo da definição de um novo regime climático pós-Quioto. As negociações começaram efectivamente em 2005, mas apenas a UE tem revelado empenho em procurar integrar novas metas de redução das emissões.
O PNAC 2006 contém as medidas julgadas necessárias pelo Governo para assegurar o cumprimento do Protocolo de Quioto por Portugal. Sendo um instrumento de estratégia de redução das emissões dos GEE, integra um pacote de políticas e medidas para todos os sectores de actividade, tendo em conta a eficácia ambiental e o custo efectivo para a sua economia.
Apresenta-se como um documento eminentemente político, com uma base utilitarista, no qual certos aspectos deveriam ser corrigidos/melhorados permitindo uma visão mais holística o que potenciaria um combate mais integrado e horizontal a todos os sectores.
Para evitar impactes futuros muito gravosos das alterações climáticas a UE considera ser necessário evitar que o aumento da temperatura média global, relativamente ao valor pré-industrial, seja superior a 2º Celsius. Isto implica a estabilização da concentração do CO2 atmosférico entre 450 e 550 ppmv, o que impõe reduções das emissões globais de GEE da ordem de 15% a 30%, até 2020 e de 60% a 80% até 2050, tomando como base o ano de 1990. Não existe, contudo, ainda qualquer esboço de acordo, tanto no seio da União, como com os outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento, no sentido de viabilizar essas reduções.
De facto, as medidas de mitigação para o período pós-Quioto estão ainda profundamente indefinidas. Elas irão, porém, traduzir-se necessariamente por uma “descarbonização” intensiva da economia, que agravará o preço da energia fóssil e abrirá o caminho de transição para um novo sistema energético e para um novo modelo de desenvolvimento.