quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Convenção sobre a Diversidade Biológica

Vídeo sobre Biodiversidade - "Biodiversidade Objectivo 2010", pretende-se conseguir até 2010 uma redução significativa da actual taxa de perda de biodiversidade ao nível global, regional e nacional.

Diversidade biológica, definida em termos de genes, espécies e ecossistemas, é vulgarmente usada para descrever o número e a variedade dos organismos vivos. Numa perspectiva global, este termo pode ser considerado como sinónimo de "Vida na Terra", resultado de mais de 3 mil milhões de anos de evolução. O número exacto de espécies actualmente existente é desconhecido: até à data foram identificadas cerca de 1,7 milhões mas as estimativas apontam para um mínimo de 5 milhões e um máximo de 100 milhões.

Apesar da extinção das espécies constituir uma parte natural do processo de evolução, actualmente devido às actividades humanas, as espécies e os ecossistemas estão hoje mais ameaçados do que em qualquer outro período histórico. As perdas de diversidade ocorrem tanto nas florestas tropicais (onde estão presentes 50 a 90% das espécies já identificadas), como nos rios, lagos, desertos, florestas mediterrânicas, montanhas e ilhas. As estimativas mais recentes prevêem que, às taxas actuais de desflorestação, 2 a 8% das espécies que vivem na Terra venham a desaparecer nos próximos 25 anos.

Estas extinções têm profundas implicações no desenvolvimento económico e social, para além de serem consideradas uma tragédia ambiental. A espécie humana depende da diversidade biológica para a sua própria sobrevivência, dado que pelo menos 40% da economia mundial e 80% das necessidades dos povos dependem dos recursos biológicos. Para além disso, quanto mais rica é a diversidade biológica, maior é a oportunidade para descobertas no âmbito da medicina, da alimentação, do desenvolvimento económico, e de serem encontradas respostas adaptativas às alterações ambientais. Manter a variedade da vida é uma medida de segurança.

A conservação da diversidade biológica e a utilização sustentável dos seus componentes não é um tema novo nas agendas diplomáticas. Esta relação foi realçada pela primeira vez em Junho de 1972 durante a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente Humano, em Estocolmo, e a primeira sessão do Conselho Governamental para o novo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (1973) identificou a "conservação da natureza, da vida selvagem e dos recursos genéticos" como uma área prioritária. O aumento da preocupação da comunidade internacional em relação à perda crescente e sem precedentes da diversidade biológica levou à criação de um instrumento vinculativo legal, com o objectivo de inverter esta situação alarmante. As negociações foram fortemente influenciadas pelo crescente reconhecimento, por parte de todos os países, da necessidade de uma partilha justa e equitativa dos benefícios provenientes da utilização dos recursos genéticos. De todo este processo resultou a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB).

A UE comprometeu‐se a parar a diminuição da biodiversidade em toda a Europa até 2010. Para Durão Barroso, presidente da UE, a perda de biodiversidade, e o consequente declínio dos ecossistemas, é uma forte ameaça às nossas sociedades e economias”. Sublinha ainda que uma acção conjunta pela biodiversidade é “uma questão vital para o debate em torno do futuro da Europa”.

Adaptado de:

www.icn.pt

http://www.biodiv.org/default.shtml

Uma oportunidade ...

Existe um amplo consenso científico e político de que entrámos num período de alterações climáticas sem precedentes, causadas grandemente pelas emissões de gases com efeito de estufa, provenientes das actividades humanas, e que as alterações climáticas são uma das ameaças ambientais mais significativas que o mundo moderno enfrenta, estando algumas comunidades e ecossistemas particularmente vulneráveis.

As temperaturas globais continuarão a aumentar durante a primeira metade do Século XXI devido aos gases com efeito de estufa já existentes na atmosfera, sendo que as emissões de hoje e as dos anos vindouros contribuirão para o grau de alterações climáticas na segunda metade do Século. É vital que se apliquem agora medidas de mitigação contra as alterações climáticas a longo prazo. O aquecimento superior a 2ºC aumentará o risco de roturas ecológicas substanciais e desastres sociais para níveis elevados inaceitáveis. Mesmo nesta fase inicial, irão ocorrer perdas de biodiversidade e de recursos biológicos sequestradores de carbono.

São necessários cortes substanciais nas emissões dos gases com efeito de estufa. O Protocolo de Quioto é um primeiro passo importante para tornar a questão das alterações climáticas como um assunto ambiental de extrema importância, bem como para a necessidade da redução de emissões, mas serão essenciais medidas adicionais para efectivamente estabilizar o clima.

A confirmarem-se algumas das projecções a biodiversidade será ameaçada por alterações climáticas rápidas. A composição e a distribuição geográficas dos ecossistemas irão alterar-se. As espécies que não conseguirem adaptar-se de forma suficientemente rápida podem extinguir-se. Projecta-se que, nestas condições, 15 a 37% de todas as espécies possam vir a ser extintas, em 2050.

Mas a biodiversidade não pára de nos surpreender.

Segundo uma noticia do jornal Público, de 26/02/07, “o navio oceanográfico alemão "Polarstern" acaba de descobrir mil espécies nas águas da Antártida. Algumas poderão mesmo ser novas para a ciência”. Durante dez semanas, os cientistas exploraram um dos ecossistemas marinhos mais virgens ao ser humano. Anémonas, ouriços-do-mar, camarões, polvos e corais são habitantes que agora se deram a conhecer.

Existe aqui uma janela de oportunidade para a ciência. Ou seja, pretende-se ir para lá da listagem de novas criaturas nos compêndios de biologia. A preocupação deste censo é conhecer as espécies da Antártida para saber até que ponto são vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas, sentidos a um ritmo mais acelerado nas regiões polares do que em qualquer outro local do planeta.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Excessos !...

Segundo a Convenção Quadro sobre a Diversidade Biológica «Diversidade biológica» significa a variabilidade entre os organismos vivos de todas as origens, incluindo, inter alia, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte; compreende a diversidade dentro de cada espécie, entre as espécies e dos ecossistemas. De uma forma mais resumida, cito Margot Wallström (ex-comissária europeia para o ambiente)A biodiversidade não é um luxo, é um pré-requisito para a vida”.

Todavia, estima-se que só na Europa, o ritmo de extinção das espécies poderá ser hoje mil a 10 mil vezes superior à taxa natural. A destruição de habitats (por exemplo, na Europa perderam-se mais de 50% das zonas húmidas) a sobre-exploração de recursos e a introdução de espécies exóticas e invasoras são graves problemas que afectam a biodiversidade. Para além destes factores as alterações climáticas desempenham hoje um papel determinante, para alguns autores, podem conduzir à extinção de 1 em cada 3 espécies em termos mundiais.

Se analisarmos a situação dos ecossistemas o panorama também não é animador. A procura de serviços dos ecossistemas é tão grande que compromissos entre a produção de diferentes serviços tornaram-se a regra. Um país pode aumentar a sua produção de alimento convertendo, por exemplo, uma floresta em campos agrícolas, no entanto ao fazê-lo, diminui o fornecimento de serviços que podem ser de valor igual, ou maior, como a água potável, madeira, destinos de ecoturismo, regulação de inundações e controle de secas.

Desflorestação da Amazónia

Existem muitos indicadores que sugerem que a procura humana de serviços de ecossistema irá crescer ainda mais nas próximas décadas. Esta combinação de procuras crescentes impostas a ecossistemas degradados diminui seriamente as perspectivas de um desenvolvimento sustentável. Estamos a viver uma época de excessos!

Este excesso coloca em risco não só a perda da biodiversidade, como também destrói os ecossistemas e a sua capacidade de fornecer recursos e serviços dos quais a humanidade depende.

A alternativa é eliminar o excesso.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

O Teixo, “de venenoso a bestial…”

O Teixo (Taxus baccata) é uma árvore de folha perene que pode crescer até aos 24 m. É uma conífera que produz bagas vermelhas e carnudas em vez de pinhas. As folhas escuras e em forma de agulha dispõem-se em espiral à volta dos ramos.

É uma espécie originária da Europa e Ásia (menor). O seu nome diz-nos que é uma planta venenosa com bagas (Taxus = do grego toxon que significa veneno; baccata = do latim baccatus, com frutos em baga ou parecidos com bagas, aludindo o seu fruto).

O “fruto” é ovóide e constituído por um invólucro carnudo e avermelhado (arilo) aberto na porção apical, encerrando no seu interior uma única semente

O seu habitat “preferencial” são os vales e encostas húmidas, independentemente do substrato, tolera a sua acidez. Está adaptado a solos rochosos, podendo encontrar-se entre as fendas das rochas. Suporta bem as altitudes superiores aos 1000 metros e resiste bem ao ensombramento, ocupando o sub-bosque de florestas mistas de folhosas.

Segundo os druidas, o Teixo era a árvore da imortalidade e era, por isso, considerada sagrada. Mais tarde, os cristãos plantaram-na nos seus cemitérios pois, por ser venenosa, consideravam que representava a morte. Esta espécie foi, mais tarde, substituída pelos Cedros porque consta que os burros que levavam os funerais para o cemitério comiam folhas de Teixo enquanto aguardavam o fim da cerimónia e morriam como consequência.

A madeira desta árvore foi muito utilizada na idade média no fabrico de arcos. Diz a lenda que o famoso arqueiro e fora-da-lei, Robin Hood casou à sombra de um Teixo.

É incrível constatar que durante tantos anos dezenas de Teixos foram dizimados, pois eram venenosos. Aliás, toda a planta é venenosa, com excepção dos vistosos arilos. Assim é obviamente perigoso o seu consumo por parte de homens e animais.

Mas as décadas de 80 e 90, do século XX, permitiram surpreendentes descobertas. A principal razão deveu-se aos estudos de que foi alvo a substância (taxina) que lhe confere a toxicidade. A partir deste alcalóide foi isolado um princípio activo, o taxol, que apresenta propriedades medicinais. Hoje em dia é usado em tratamentos oncológicos no combate do cancro dos pulmões, mama e ovário, traduzindo-se o seu efeito na inibição da proliferação das células cancerígenas, evitando o alastramento do cancro.

Por sua vez, a caça indiscriminada de aves que disseminavam a semente, parece ter também contribuído para a raridade do Teixo.

Hoje só se encontra, em Portugal, nas zonas mais altas das serras da Estrela, Gerês e Montesinho.

Trata-se de uma espécie protegida.
Já viu algum?...

A biodiversidade não é um luxo, é um pré-requisito para a vida

Lírio-do-Gerês

O bem-estar humano e o progresso em direcção ao desenvolvimento sustentável dependem de forma vital da melhoria da gestão dos ecossistemas da Terra de modo a assegurar a sua conservação e uso sustentável. No entanto, enquanto a procura de serviços de ecossistema, tais como alimento e água potável estão a aumentar, ao mesmo tempo, as actividades humanas diminuem a capacidade de muitos ecossistemas de responder a esta procura. Políticas apropriadas e intervenções de gestão podem, frequentemente, reverter a degradação e melhorar a contribuição dos ecossistemas para o bem-estar humano, mas saber quando e como intervir requer uma grande compreensão dos sistemas ecológicos e sociais envolvidos.

A humanidade sempre dependeu dos serviços prestados pela biosfera e pelos seus ecossistemas. Para mais, a biosfera é em si própria o produto da vida na Terra. A composição da atmosfera e do solo, a circulação dos elementos pelo ar e pelos cursos hídricos, e muitos outros bens e serviços ecológicos são o resultado de processos vivos, e todos são mantidos e reabastecidos por ecossistemas vivos. A espécie humana, embora protegida das acções imediatas do meio ambiente através da cultura e da tecnologia, está em última instância totalmente dependente do funcionamento dos serviços dos ecossistemas.

A biodiversidade é a base de sustentação dos bens e serviços fornecidos pelos ecossistemas, os quais são cruciais ao bem-estar e sobrevivência do Homem. Os bens e serviços, fornecidos pelo ecossistema, têm um valor económico significativo, apesar de alguns destes bens e a maioria destes serviços não serem comercializados e não possuírem “preço tabelado”. O seu valor advém dos usos directos (v.g. na alimentação, medicamentos, controle biológico, matérias-primas para a indústria, lazer e turismo) e usos indirectos dos serviços providos pela biodiversidade (ex. fotossíntese, regulação atmosférica, climática e hidrológica, ciclo de nutrientes, controle de pestes, polinização, e formação e manutenção do solo). Além disso, tem também uma variedade de outros valores não utilizados, nomeadamente o seu valor intrínseco (valor inerente) e o seu valor de legado (valor para as futuras gerações).

A biodiversidade tem aumentado desde a origem da vida terrestre, embora de forma descontínua, atingindo o seu pico máximo antes do aparecimento da humanidade e tendo vindo a decrescer desde então.

Actualmente, as notícias não são nada boas: segundo o relatório “O Planeta Vivo 2006, da WWF, confirma-se que consumimos os recursos naturais a um ritmo superior à sua capacidade de renovação – os últimos dados disponíveis (relativos a 2003) indicam que a Pegada Ecológica da humanidade, uma medida de nosso impacto sobre o planeta, mais que triplicou desde 1961. A nossa Pegada Ecológica agora supera a capacidade de regeneração do mundo em aproximadamente 25%. As consequências da crescente pressão que exercemos sobre os sistemas naturais da Terra são, de acordo com este relatório, ao mesmo tempo previsíveis e catastróficas. O outro índice utilizado neste documento, o Planeta Vivo, mostra uma perda rápida e contínua de biodiversidade. Populações de espécies de vertebrados sofreram redução de aproximadamente um terço desde 1970, o que confirma tendências anteriores. A mensagem desses dois indicadores é clara e urgente: nos últimos 20 anos, excedemos a capacidade da Terra para suportar os nossos estilos de vida, e é necessário parar.

Então, do que está à espera?

Dê o primeiro passo para a sustentabilidade – conheça a sua Pegada Ecológica.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

A Escola e a Geoconservação

Amonite, Cabo Mondego (Fonte: www.geopor.pt)

O reconhecimento da importância do património geológico no contexto das políticas de conservação da natureza tem vindo a adquirir, nos últimos anos, um destaque nacional e internacional.

A individualização dos conceitos de Património Geológico e de Geoconservação, no seio dos temas mais abrangentes de Conservação da Natureza e do Ambiente, representa uma evolução positiva relativamente recente. Embora seja fruto de um trabalho já longo, sendo estes conceitos ainda pouco reconhecidos pela sociedade em geral e até por grande parte dos próprios agentes educativos.

A Geodiversidade é o suporte de todos os sistemas terrestres e, portanto, da Biodiversidade, sendo essencial conhecer e compreender o seu valor e o seu papel na dinâmica do nosso Planeta e na própria Vida.

Considero que este “trabalho” deve ser feito numa perspectiva integrada de abordagem científica e pedagógica, promovendo o conhecimento sobre os objectos de estudo naturais, em particular os geológicos, a sua valorização, preservação e repercussão na sociedade.

Não me parece existir uma estratégia de geoconservação nacional efectivamente suportada pelo Instituto de Conservação da Natureza – como deveria acontecer uma vez que é a instituição que tem a responsabilidade de gerir a Conservação da Natureza em Portugal. Todavia, são vários os exemplos de trabalhos desenvolvidos por diversas instituições, como é o caso do Museu Nacional de História Natural, do INETI (ex-IGM) e de grande parte dos departamentos universitários de Geologia. De uma forma geral, estas instituições não só têm conseguido proceder a uma inventariação de geossítios, mas também têm dinamizado acções de divulgação de alguns aspectos do património geológico e assim contribuído para a geoconservação.

Mas, independentemente do trabalho do ICN, Museus ou Institutos, considero que um elemento chave para a geoconservação está nas escolas. Não serão os nossos alunos agentes por excelência para a conservação e divulgação no nosso património? Claro que sim. Basta que lhes sejam dados os conhecimentos e as ferramentas para isso.

Se analisarmos os curricula do ensino básico e até do secundário constatamos que, nos conteúdos de geologia, o ênfase é feito sobre a geodiversidade (tipos de rochas, minerais, formas de relevo, etc), esquecendo quase sempre a geoconservação. O mesmo já não se passa em relação à biodiversidade e sua conservação, que são amplamente trabalhadas. Sendo a geodiversidade o suporte de todos os sistemas terrestres tal falha será, no mínimo, incoerente.

Enquanto isto acontece, o estado de conservação de muitos dos nossos geossítios é preocupante.

Sabendo que estamos em plena Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (2005-2014), parece-me ser o momento ideal para integrar a geoconservação nos curricula escolares. Mas haverá vontade, ou condições, para que tal se realize?...

Se através da escola os alunos receberem conhecimentos sobre a nossa geodiversidade, tiverem oportunidade de visitar alguns geossítios e lhes for lançado o desafio de elaborar certos trabalhos sobre eles, de certeza que conseguimos que sejam competentes nos domínios do Saber saber, Saber fazer, Saber estar. E, desta forma, damos um passo decisivo para a geoconservação em Portugal.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Uma viagem no tempo ...



A Terra gira à volta do Sol há 4600 Milhões de anos. Quase como um ser vivo, a face da Terra tem mudado ao longo do tempo. Os oceanos e a atmosfera evoluíram, as montanhas ergueram-se e desmoronaram-se, os mares surgiram e secaram, os rios têm seguido o seu curso e escavado desfiladeiros em rochas antigas.
E, no meio de todas estas transformações, a vida surgiu e sobreviveu a alterações profundas.
Uma viagem no tempo é a proposta que deixo, um pequeno passo para conhecer o planeta onde vivemos e reconhecer a beleza da sua bio e geodiversidade...

Boa viagem...

Earth History:

Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=YpbevfWrYg0&mode=related&search=
Parte 2:
http://www.youtube.com/watch?v=t29XAqff1ak&mode=related&search=
Parte 3:
http://www.youtube.com/watch?v=qVzvYV4DG9M&mode=user&search=
Parte 4:
http://www.youtube.com/watch?v=BveL7cSLtrQ&mode=related&search=
Parte 5:
http://www.youtube.com/watch?v=q0ubY3Aevb0&mode=user&search=
Parte 6:
http://www.youtube.com/watch?v=UFNGpb2diJg&mode=related&search=

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

A geologia está na rua!

É frequente ouvir-se dizer: “existem males que vêm por bem”… Pois é bem verdade, veja-se o caso do terramoto de 1 de Novembro de 1755, que colocou Lisboa nas "bocas do mundo". Provavelmente esta ocorrência esteve na base de uma grande explosão de conhecimentos sobre a geologia portuguesa.

Um exercício interessante é o de analisar a valorização do património geológico na toponímia de uma cidade. Os nomes escolhidos têm, muitas vezes, referências a uma determinada utilização de rochas ou minerais por exemplo, existindo por isso uma justificação científica e/ou económica para essa atribuição.

A Geologia portuguesa pode considerar-se bem representada na toponímia da cidade, quer no que se refere a grandes vultos de geocientistas, quer no que se refere a termos geológicos. Estes últimos, particularmente ligados à variada constituição geológica dos terrenos em que assenta a cidade, estiveram melhor representados na primeira metade do século XX; contudo, a urbanização impôs modificações consideráveis nalgumas freguesias, com o consequente desaparecimento de muitos termos particularmente ligados a Vilas, Quintas e Pátios.

São vários os termos geológicos presentes na toponímia da cidade, se bem que alguns deles tenham caído actualmente em desuso, ou tenham mesmo desaparecido por motivos vários.

Apresentam-se de seguida alguns exemplos actuais:

a) Sítio do Calhau, Miradouro do Calhau e Parque Urbano do Calhau (freguesias de São Domingos de Benfica e de Campolide);

b) Rua da Mãe de Água (Freg. de S. José);

c) Escadinhas dos Terramotos (freg. do Santo Condestável);

d) Rua da Prata (ex-Rua Bela da Rainha) e Travessa das Pedras Negras (freg. da Madalena) e Rua das Pedras Negras (freg. da Sé);

e) Rua das Pedreiras (freg. de Santa Maria de Belém), Caminho das Pedreiras (Monsanto), Rua da Pedreira do Fernandinho (freg. de Campolide), Beco da Pedreira da Caneja (freg. do Santo Condestável) e Rua da Cascalheira (freg. de Alcântara) - todas estas ruas estão relacionadas com a existência de pedreiras de calcários cretácicos, os chamados “Calcários de rudistas”, os “Calcários de Neolobites vibrayeanus” e os “Calcários de Alveolinídeos” do Cenomaniano.

A maioria das pessoas que passa por estes locais nem repara nos nomes e muito menos estabelece uma relação entre esse nome e a história do local.
A geodiversidade está à nossa volta e no nosso dia-a-dia…


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Barragem do Alqueva: benefícios vs ameaças...


A albufeira do Alqueva inunda uma área de 25000 hectares, dos quais 3500 dos quais em território espanhol. Actualmente o Alqueva é uma importante reserva estratégica de água e a maior reserva portuguesa (com cerca de 250 km2 de superfície e 83 km de comprimento).

O armazenamento de água é também um armazenamento de energia. É a maior hídrica a sul do Tejo e a terceira hidroeléctrica em potência instalada. Produz 460 GW/ano, o suficiente para alimentar uma cidade com 250 mil habitantes.

O Alqueva garante a distribuição de água às actividades económicas dela dependentes, principalmente a agricultura e as agro-indústrias, contribuindo assim, segundo os seus promotores, para um desenvolvimento económico sustentável e harmonioso na sua área de influência.

Mas…

A produção agrícola alentejana sofreu uma alteração de fundo: de cultura de sequeiro (com as plantações de cereais) a região passou para o regadio. Criam-se novas culturas, surgem novas indústrias. A água do Alqueva alimenta 115 mil hectares de regadio.

Mas será que a construção da Barragem do Alqueva não teve uma influência determinante na geodiversidade regional? Praticamente tudo mudou, em particular a paisagem e o uso do solo. para além disso, muitas espécies residentes tiveram de se deslocar e, ao mesmo tempo foram criadas as condições para outras aqui viverem. Seguramente as águas superficiais e subterrâneas sofreram também alterações de fundo.

Não pretendo fazer juízos sobre a necessidade de construção de estruturas de apoio a uma melhoria das condições de vida a nível regional. Contudo a questão que se coloca é saber se as mudanças registadas e a subsequente intervenção na bio e geodiversidade foram devidamente estudadas. Quando somos confrontados com notícias, como a de 6 de Setembro de 2001 do jornal Público onde se refere que um “estudo defende que Alqueva assenta sobre falha sísmica activa”, temos, no mínimo o direito de nos questionarmos sobre estas mudanças.

Primeiro Geoparque português

Um Geoparque é uma área com expressão territorial e limites bem definidos, que contem um número significativo de sítios de interesse geológico com particular importância, raridade ou relevância cénica/estética. Estes sítios que reportam a memória da Terra fazem parte de um conceito integrado de protecção, educação e desenvolvimento sustentável.

Um Geoparque tem como objectivos primários a preservação dos geossítios de particular importância, a divulgação do conhecimento geocientífico e dos conceitos ambientais e a promoção de uma actividade económica e o desenvolvimento sustentável através do Turismo de Natureza.

A Classificação do território como geoparque representa uma valorização do património geológico a nível internacional.

O Geopark Naturtejo da Meseta Meridional, que une os municípios de Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Nisa, Oleiros, Proença-a-Nova e Vila Velha de Ródão, tem como objectivo valorizar os locais que agem como testemunhos-chave da História da Terra, fomentando o emprego e promovendo o desenvolvimento económico regional. O vasto património geomorfológico, geológico, paleontológico e geomineiro apresenta elementos de relevância nacional e internacional, de que são exemplos os icnofósseis de Penha Garcia, os canhões fluviais de Penha Garcia, das Portas do Ródão e de Almourão, a mina de ouro romana do Conhal do Arneiro e as morfologias graníticas da Serra da Gardunha e Monsanto.

Para além dos geossítios, o Geopark Naturtejo conta com o Parque Natural do Tejo Internacional e com áreas protegidas no âmbito da Rede Natura 2000 (sítios Gardunha, Nisa e S. Mamede) e das Important Bird Areas (Penha Garcia - Toulões e as serranias quartzíticas do Ródão), que testemunham a sua riqueza ecológica (in http://www.geoparknaturtejo.com).

Neste momento existem 49 Geoparques classificados pela UNESCO, distribuídos pela União Europeia, China, Irão e Brasil. Esta Rede promove serviços de elevada qualidade, partilhando entre os Geoparques estratégias e boas práticas comuns para a preservação ambiental e desenvolvimento turístico e o intercâmbio de conhecimentos e apoios em diversas áreas. A gestão e as actividades dos Geoparques da UNESCO regem-se pelas linhas de referência e pelos critérios definidos pela UNESCO.

Rede mundial de Geoparques (fonte: http://www.geoparknaturtejo.com/conteudos/pt/geopark.php)

Portugal está incluído nesta rede desde Julho de 2006, quando foi aprovado por unanimidade na Assembleia Geral da Comissão de coordenação da Rede Global de Geoparques da Unesco o Geoparque Naturtejo da Meseta Meridional.

Este Geoparque possui 16 geomonumentos:

- Parque Icnológico de Penha Garcia (Idanha-a-Nova);

- Portas do Almourão (Proença-a-Nova/Vila Velha de Ródão);

- Garganta epigénica de Malhada Velha (Oleiros);

- Rotas das Minas de Segura (Idanha-a-Nova);

- Miradouro geomorfólico das Corgas (Proença-a-Nova);

- “Inselberge” graníticos de Monsanto (Idanha-a-Nova);

- Escarpa de falha do Ponsul (Nisa/ Vila Velha de Ródão/C.Branco/Idanha);

- Tronco fóssil de Perais (Vila Velha de Ródão);

- Meandros do Rio Zêzere (Oleiros);

- Canhões fluviais do Erges (Idanha-a-Nova);

- Cascata das Fragas da Água d’Alta (Oleiros);

- Portas do Ródão (Nisa/ Vila Velha de Ródão);

- Morfologias graníticas de Castelo Velho (C. Branco);

- Blocos pedunculados de Arez-Alpalhão (Nisa);

- Complexo mineiro de Monforte da Beira (C. Branco);

- Mina de ouro romana do Conhal do Arneiro (Nisa).

Portas de Rodão

O significado geológico, mas também o património ecológico, a arqueologia, história e cultura fazem deste geoparque um local único e que merece ser visitado. Os seus geossitíos constituem um excelente mote para acções de educação geocientífica e ambiental assim como para a prática de percursos e de um turismo de natureza efectivamente sustentável.

Acima de tudo é o local ideal para pensarmos um pouco no valor da geodiversidade e na forma como o Homem se comporta perante ela.

Links de interesse:

http://www.geoparknaturtejo.com/conteudos/pt/introducao.php - Geoparque NaturTejo da Meseta Meridional

http://www.europeangeoparks.org/isite/home/1%2C1%2C0.asp – European geoparks network

http://www.unesco.org/science/earth/ - UNESCO

http://www.worldgeopark.org/ - Rede mundial de Geoparques


sábado, 10 de fevereiro de 2007

Arca de Noé...


Todos os dias somos inundados com notícias que relatam a perda de biodiversidade. Muito provavelmente poucos saberão o que realmente está a desaparecer, pois, pelo contrário, nos últimos tempos muitas espécies têm sido descobertas.

Mas já ninguém tem dúvidas sobre as alterações que o planeta está a sofrer. Quais as consequências, ninguém sabe ao certo. Existem muitas projecções, mas o futuro é incerto.

Este é o tempo de reequacionarmos a nossa forma de viver na Terra. Previsão e Precaução assumem-se como os factores chave para uma efectiva sustentabilidade. É também altura de pensarmos nos actuais valores da biodiversidade e geodiversidade, e na forma como a nossa espécie os tem usado.

Neste contexto, foi publicada uma notícia no Diário de Notícias de 10/02/2007, intitulado “Vem aí a Arca de Noé para as plantas agrícolas”. Atendendo ao actual momento de rápidas e até por vezes drásticas mudanças, a notícia apresenta-nos um projecto que pretende salvaguardar um certo património biológico. Esta acção tem provavelmente por base a precaução acima referida (ao longo da história muitas espécies se extinguiram sem que o Homem guarde alguma memória genética dela). Ao mesmo tempo, espelha uma certa preocupação de prevenir. Quem sabe o que o futuro nos reserva…

Apresento de seguida um excerto dessa notícia:

«O objectivo é preservar a biodiversidade agrícola para o futuro, por isso já lhe chamaram o "cofre-forte do juízo final". Um dramatismo que o nome oficial, Svalbard International Seed Vault, não tem.

"Cofre-forte do juízo final", ou "Arca de Noé das plantas", a ideia é construir um bunker em cimento armado, no interior de uma montanha numa ilha do arquipélago norueguês de Svalbard no círculo polar Árctico, numa região hostil e gelada. Aí se guardará tudo o que existe hoje de memória de dez mil anos de agricultura.

O projecto é promovido por uma organização internacional que se dedica à preservação genética de plantas agrícolas, a Global Crop Diversity Trust, e a construção, que custará mais de três milhões de euros e ficará a cargo do governo norueguês, inicia-se já em Março, foi ontem anunciado.

Prevê-se que a obra, que implica a perfuração de uma montanha gelada no Árctico até 120 metros de profundidade, e a mil quilómetros de distância do território continental da Noruega, ficará concluída ainda em Setembro deste ano.

Apoiado pela FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a "Arca de Noé das plantas" que vai nascer em Svalbard não é um banco de sementes como os outros. Actualmente, há pouco mais de mil bancos deste tipo no mundo. São arquivos regionais uns, mais locais ou mais completos outros, mas nenhum como o que aí vem. O de Svalbard pretende ser uma memória universal e contará com uma amostra de cada variedade e de cada espécie agrícola que existe actualmente no mundo.

"Queremos preservar a biodiversidade agrícola para o futuro", sublinhou Fowler, lembrando que muitas "espécies já se perderam para sempre, como sucedeu aos dinossauros"»

in www.dn.pt (10/02/07)



Inovador, com toda a certeza, mas não estará o Homem a fazer de Deus, ou seja, não estaremos a querer alterar a evolução natural?

Todavia, se o ambiente da Terra vai mudar, será que as espécies actuais conseguem viver com um clima diferente?

Geoconservação em Portugal - um exemplo a seguir...

A descoberta e o papel da Sociedade

A descoberta acidental da jazida da Pedreira do Galinha ocorrida no dia 4 de Julho de 1994 suscitou, até à sua classificação como monumento natural cerca de dois anos depois, alguma preocupação quanto ao processo negocial a seguir de forma a preservar a área em causa do risco de desaparecimento, uma vez que a pedreira estava activa e o empresário industrial detinha todos os direitos de exploração para fins extractivos.

Para isso, era fundamental que o governo adquirisse os direitos de exploração da referida área em causa, e de seguida a classificasse como Monumento Natural, o que veio a acontecer em 22 de Outubro de 1996.

Para a resolução desta questão muito contribuiu o movimento gerado em torno desta descoberta pelas organizações associativas relacionadas com o património natural e histórico, o Museu Nacional de História Natural, a comunicação social, a comunidade científica nacional e mesmo internacional e a população nacional.

Num artigo do Correio da Manhã de 27/05/1995, o Prof. Galopim de Carvalho deixou um alerta, “bem encaminhado de início, encontra-se de momento numa fase de indefinição altamente preocupante (…) trata-se de um verdadeiro geo-monumento e autêntico santuário do passado geológico da Terra de há cerca de 170 milhões de anos” à data a correr o grave risco de se perder e isto “em virtude da morosidade com que está a ser encarado (ou esquecido) pelos órgãos de administração a quem compete decidir o seu destino”.

Viagem no tempo...

Aspecto de parte de um trilho de pegadas (foto: JG)

A Jazida está situada no flanco oriental da Serra D’Aire, a poucos quilómetros de Fátima, em terrenos que são parte integrante da chamada Orla Mesocenozóica Ocidental, ou seja, um vasto conjunto de formações geológicas geradas na sequência da abertura e alastramento do Oceano Atlântico, com início há pouco mais de duas centenas de milhões de anos.

O estudo das impressões deixadas pelos dinossáurios, bem como das rochas e sedimentos aqui existentes, permitiu a simulação do ambiente existente há 175 milhões de anos na actual região ocupada pela Pedreira do Galinha.

Sabe-se hoje que as pegadas observadas foram originalmente impressas numa lama calcária muito fina e de grande plasticidade, depositadas em meio marinho lagunar, muito pouco profundo (1 a 2 metros). Os sedimentos representados nos estratos visíveis na pedreira, depositados durante milhões de anos, foram posteriormente transformados em calcário, originando as espessas camadas de rocha que, até 1994, eram exploradas na pedreira. Nesta jazida, constituída pela superfície rochosa de uma destas camadas calcárias, com cerca de 60.000m2 podem observar-se várias centenas de pegadas organizadas em duas dezenas de pistas, uma das quais com 147 m de comprimento, a mais longa pista de dinossáurio saurópode (dinossáurios herbívoros, quadrúpedes, com cabeça pequena e pescoço e cauda muito longos) do mundo.


Pormenor de uma pegada. É possível observar o rebordo deixado pela pegada na lama existente na época, e a forma da pata e dos dedos (foto. JG)

Actualmente, este monumento é um importante centro de educação ambiental e um laboratório permanente para a compreensão da história da Terra e dos seres vivos. É um bom exemplo do valor científico e educativo da geodiversidade.


Estará o património geológico protegido em Portugal?

O conjunto dos geossítios de uma dada região constitui o chamado Património Geológico que, juntamente com o Património Biológico, dá corpo ao Património Natural dessa mesma região.

Mas será que a geodiversidade deve ser conservada. A resposta parece-me clara. Existem elementos da geodiversidade (os geossítios) que possuem um elevado interesse científico, pedagógico ou até turístico, e como tal merecem medidas de conservação.

Consoante a tipologia dos geossítios assim se podem designar sub-conjuntos do Património Geológico como sendo o Património Paleontológico (quando o conteúdo principal dos geossítios corresponde a fósseis), o Património Geomorfológico (se os geossítios estão associados a geoformas de escalas diversas), o Património Mineralógico (quando o principal interesse dos geossítios se relaciona com a ocorrência de minerais), entre outros.

A Geoconservação surge, assim, pela necessidade de conservar o Património Geológico.


Locais onde existem jazidas com pegadas de dinossauro. São poucos os locais que estão ao abrigo de medidas e acções efectivas de conservação.

Considero que o património geológico existente em Portugal está suficientemente bem identificado e caracterizado. Pelo contrário, a sua conservação não tem sido tratada de forma adequada. Neste contexto destaco o trabalho do Grupo ProGEO-Portugal que decidiu em Janeiro de 2002, seguir a metodologia de trabalho da ProGEO, com vista à integração no Projecto Geosites da IUGS.

Por diversos motivos, o património geológico não tem sido adequadamente tratado em Portugal. Falta de sensibilidade das autoridades responsáveis pela Conservação da Natureza ou deficiente enquadramento legal. Provavelmente estas são apenas duas razões para que o património geológico não esteja tão conhecido e divulgado como acontece com o património biológico.

Uma parte significativa da sociedade portuguesa ainda desconhece este tema, e também não está sensibilizada para a necessidade de conservar a parte “não viva” da natureza, pois, alegadamente, não está sujeita a ameaças. Assim, parece-me que também a comunidade científica não está isenta de culpas. Quem melhor que os cientistas para divulgar e incentivar a “sociedade civil” para a geoconservação.

A protecção da natureza deve ser entendida como um esforço global, envolvendo a sociedade, as comunidades locais, e acima de tudo, deve integrar valores biológicos e geológicos.

Conhecer para conservar

Embora a área do do nosso país seja relativamente reduzida é grande a sua geodiversidade e seu registo geológico bastante completo. Pendo do Lexim, Lápias da Granja dos Serrões e Duna fóssil de Oitavos são apenas três exemplos dos nossos geomonumentos.
Vamos conhecê-los um pouco melhor...

Penedo do Lexim

O Penedo do Lexim representa uma antiga pedreira de basalto, que se encontra perto da povoação do Lexim, a cerca de 7 km a Sul de Mafra.
Corresponde a uma antiga chaminé vulcânica de rocha basáltica pertencente ao Complexo Vulcânico de Lisboa. A idade, determinada por métodos isotópicos, é de 55±18 Ma. Pensa-se que a conduta vertical teria cerca de 2 000 m de altura e 30 m de diâmetro.

Posteriormente, a acção dos agentes erosivos desmantelou o aparelho vulcânico, ficando apenas preservada a chaminé, mais resistente, que se observa neste local. Os estudos feitos neste antigo aparelho vulcânico indicam que a rocha que hoje observamos teria arrefecido a uma profundidade de 2000 m e que a chaminé vulcânica atingia 30 metros de diâmetro.
Um aspecto que se salienta quando se observa este afloramento é a presença de prismas de secção aproximadamente hexagonal, aspecto este que é conhecido como disjunção prismática ou colunar.

Campo de Lápias da Granja dos Serrões

Os lápias são formações geológicas que atingiram uma forma bastante característica, como resultado da erosão química do calcário pelas águas pluviais aciduladas pelo dióxido de carbono atmosférico, ou seja, pelas águas gasocarbónicas. O Campo de Lápias da Granja dos Serrões iniciou todo este processo há mais de 70 milhões de anos.

A acção das águas como agente físico-químico modelador dos calcários origina uma diversidade de formas de relevo características a que no seu conjunto chamamos relevo ou modelado cársico. De entre essas formas destacam-se, a nível superficial, os campos de lapias e as dolinas. A nível subterrâneo destacam-se os algares: aberturas naturais verticais, por vezes com dezenas de metros e que por vezes se desenvolvem em profundidade por sistemas de galerias, salas e poços que, no seu conjunto, formam aquilo a que chamamos grutas.


Duna fóssil de Oitavos

(Fonte da imagem: georoteiros.pt)

A duna consolidada, duna fóssil ou paleoduna corresponde a um estádio do processo de evolução da areia solta para a rocha arenito, processo que dura milhares de anos. Ao longo do tempo, a acção de um cimento calcário (proveniente da dissolução dos fragmentos de conchas que compõem a areia) ou argiloso provoca a aglutinação progressiva dos grãos de areia, originando a duna consolidada. A duna de Oitavos faz parte de um sistema de que se prolonga para norte.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Conformados?


"A natureza nunca nos decepciona. Nós é que sempre nos decepcionamos a nós próprios..."


Jean-Jacques Rosseau in “Emile”, 1762.

E se todos avaliarmos a nossa maneira de pensar?...

A natureza cuja evolução, está provado, ser lenta e permanente, possui valor em si mesma independentemente da utilidade económica que tem para o ser humano que vive nela. Esta ideia central define a chamada ecologia profunda – cuja influência é hoje cada vez maior – e expressa a percepção prática de que o Homem é parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive.

Arrifana (Costa alentejana)

Estamos hoje num mundo em rápida mutação. Por um lado conseguimos compreender essas alterações, até por que a nossa espécie é a grande responsável por elas. Mas por outro lado, parece que não conseguimos alterar, de forma significativa, o rumo destes acontecimentos.

Estamos então perante um novo paradigma. Este pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma colecção de partes dissociadas. Pode também ser denominado visão ecológica, se o termo "ecologia" for utilizado num sentido muito mais amplo e profundo que o usual. A percepção ecológica profunda reconhece a independência fundamental de todos os fenómenos e o facto de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza (e, em última análise, somos dependentes desses processos).

Mas esta necessária mudança de paradigma não estará associada a uma avaliação das nossas percepções e maneiras de pensar, e acima de tudo, ao repensar dos nossos valores. Até hoje a história diz-nos que o Homem tem-se baseado em valores centrados nele próprio (visão antropocêntrica). Será então necessário mudar estes valores de modo a que estejam centrados na Terra (visão ecocêntrica).

Segundo a ecologia profunda, devemos reconhecer o valor inerente da vida “não-humana”. Quando, e se, compreendermos que todas os elementos que compõem o puzzle da bio e geodiversidade estão ligados entre si numa complexa rede de dependências, então esta nova percepção chegou ao nosso quotidiano. Talvez seja este o passo fundamental para a tão urgente sustentabilidade…

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Na Natureza tudo se transforma. Nada se destrói?...



Petróleo no Alentejo ?...

O planeta está ameaçado...
A perspectiva antropocêntrica dos últimos anos encerra uma visão instrumental da natureza. Mas deve a ciência assumir-se como um instrumento privilegiado para a superação dos problemas associados à crise social e global do ambiental?
Ou podemos continuar a usar a ciência em prol de uma busca incessante de recursos, colocando em causa a bio e geodiversidade do planeta, e no limite a própria sobreviência humana. Neste contexto parece-me interessante destacar uma notícia recente.
A maioria dos jornais de sábado, dia 3 de Fevereiro de 2007, destacavam o investimento para procura de petróleo junto à costa alentejana.
O Diário de Notícias refere que «O consórcio liderado pela australiana Hardman Resources e participado pela Partex e pela Galp, que assinaram quinta-feira três contratos com o Estado português para pesquisa e exploração de hidrocarbonetos em águas profundas ao largo da Costa Vicentina, irá investir mais de 300 milhões de euros na fase inicial, de oito anos, caso os estudos feitos nos primeiros quatro indiciem que vale a pena avançar para as perfurações...»
Valerá a pena avançar com as perfurações?
Será uma solução sustentável e duradoura?
Ou ainda "Seremos capazes de administrar correctamente o poder da técnica e da ciência? ..." (Viriato Soromenho Marques, Metamorfoses. Europa América)
Enfim, parece que não aprendemos muito com certas lições do passado recente.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

O nosso planeta está a mudar...

O nosso planeta está a mudar! Estas mudanças estão a afectar a bio e geodiversidade.

Não deixem de consultar o atlas do "planeta em mudança"... dá que pensar !...


Recursos minerais, até quando?...

Uma possível definição de recurso natural é de algo produzido, ou existente, na natureza e que tem utilidade para a sociedade.
Os recursos naturais podem ser classificados como renováveis e não renováveis, de acordo com a sua taxa de renovação à escala humana.
Se tivermos em consideração que todos os recursos naturais resultam de ciclos naturais, no limite, todos são renováveis, mas em diferentes escalas temporais e em função da sua utilização.
Contudo, e tendo em consideração que a maioria dos recursos minerais necessitam de tempo à escala geológica, na ordem das centenas de milhões de anos, para se reciclarem e reincorporarem na geosfera, então devemos classificá-los como recursos não renováveis. Não renováveis acima de tudo devido ao seu ritmo de extracção e utilização.
Segundo Galopim de Carvalho, os recursos minerais são georrecursos económicos definidos como «concentrações naturais de matérias sólidas, líquidas ou gasosas de natureza mineral ou paleobiológica ocorrentes na superfície ou no interior, desde que se revistam de utilidade». Como tal, são alvo de exploração, quer em curso, quer em perspectiva (uma espécie de disponibilidade em termos futuros). Assim, impõe-se a questão: “Poderão, no futuro, os recursos minerais explorados serem suficientes para suprir as necessidades de crescimento das sociedades mais industrializadas?”
Se tivermos em consideração o actual modelo de desenvolvimento das sociedades assente numa exploração exaustiva dos recursos, a resposta é não.
Como resolver, então, este problema? A resposta mais óbvia é que os recursos devem ser geridos de um modo sustentável para que correspondam à sua designação e se renovem ao longo do tempo.
Mas em concreto o que deve ser feito? Também me parece claro que a mesma tecnologia e desenvolvimento que tem necessitado destes recursos, já chegou a um nível em que podemos evoluir para o uso de alternativas, o que neste caso corresponde ao uso de outros recursos que não necessitem de tanto tempo para se reciclarem, e ao mesmo tempo, é urgente garantir uma estratégia global de gestão sustentada dos recursos minerais.
O crescimento das sociedades não é incompatível com a exploração dos recursos.

A geodiversidade e o seu valor ...

Desde os primórdios da história do Homem que a geodiversidade tem desempenhado um papel fundamental na vida da nossa espécie.
Inicialmente, e de uma forma empírica, a procura de esconderijos/abrigos e o uso de determinadas rochas como instrumentos revelam uma dependência forte entre a nossa espécie e o meio.
Durante muitos séculos, o Homem observou e interpretou os processos naturais e as paisagens por eles construídas como destituídos de valor estético. A geodiversidade tinha, então, um valor meramente funcional, por exemplo serviria de suporte, de substrato para determinadas actividades, em que o uso do solo para a produção de alimentos tinha um papel de destaque.
Durante este período de tempo, a geodiversidade era destituída de valor estético para a maioria das pessoas, as quais manifestavam, quase sempre, o seu medo perante certos processos naturais, nomeadamente vulcões e sismos. Estes fenómenos eram, então, atribuídos a causas divinas e “extraterrestres”. Por exemplo, há cerca de 2400 anos, Aristóteles (384-322 a.C.) acreditava que os tremores de terra moderados eram causados pelo vento que escapava das grutas das entranhas da Terra e que os de grande intensidade se deviam à deslocação de furacões através de grandes cavernas subterrâneas.
É interessante verificar que, no século XVIII, o Romanticismo chega às Ciências da Natureza e por toda a Europa começou a existir um grande fascínio com as montanhas e outros elementos da geodiversidade. Neste período o valor estético é preponderante e largamente reproduzido em pinturas e poemas, por exemplo.
Por sua vez, constata-se que, ainda hoje, muitos locais revelam lendas e tradições em que se verifica uma íntima relação entre certos elementos do meio e determinadas práticas locais. Neste contexto, são inúmeros os exemplos de locais identificados com certas imagens (como “a cabeça da velha” na Serra da Estrela), assim como a associação de certos locais à prática de determinados rituais religiosos. Esta valorização cultural da geodiversidade tem estado praticamente sempre presente desde a pré-história. De início não se registava um particular fascínio pela geodiversidade e surgiam inúmeras e curiosas tentativas de explicar aquilo que não se compreendia.


A partir dos séculos XVII e XVIII o Homem passou a conhecer melhor o planeta onde vivia, não só numa perspectiva científica, tentando explicar a sua constituição e processos, mas passou a conseguir perceber que muitos elementos da geodiversidade teriam utilidade para as suas actividades.

Neste período dois cientistas deixaram uma obra notável e de referência. James Hutton (1726-1797), considerado o fundador da geologia moderna, através da observação dos fenómenos actuais deduziu que as mesmas leis físicas actuais que os condicionam terão sido as mesmas que actuaram no passado. Formulou, então, o princípio do Uniformitarismo: o presente é a chave da interpretação do passado. Mais tarde, Charles Lyell (1797-1875), ampliou este princípio aplicando-o a novas situações geológicas. Segundo este autor, os processos que levam à formação das rochas no presente obedecem às mesmas leis que presidiram à sua formação há centenas de milhões de anos.
O aumento do conhecimento permitiu, por um lado, uma melhor compreensão da Terra e dos seus processos, mas por outro lado, conduziu a uma mudança de atitude. O Homem deixou de temer a natureza, passando a querer dominá-la. O valor económico passou a ser o elemento comum na relação entre o Homem e a geodiversidade. Esta “inversão” de valores atingiu o expoente máximo com o uso dos combustíveis fósseis e a prática de um modelo de desenvolvimento das sociedades numa estreita, e até frágil, dependência entre as actividades e a própria vida e estes recursos energéticos.

Hoje em dia, até a valorização da geodiversidade na sua perspectiva funcional está directamente relacionada com a vertente económica. Tenhamos em consideração a construção de barragens, as quais recorrem ao carácter utilitário da geodiversidade para suporte de certas actividades.
Habitamos um “planeta vivo” e, como tal, só é possível viver nele em estreita dependência com os seus elementos. A geodiversidade sempre teve, e continua a desempenhar, um papel de destaque para a sobrevivência da nossa espécie.

Desde então, o valor económico passou a ser o elemento comum na relação entre o Homem e a geodiversidade.
Esta “inversão” de valores atingiu o expoente máximo com o uso dos combustíveis fósseis e a prática de um modelo de desenvolvimento das sociedades numa estreita, e até frágil, dependência entre as actividades e a própria vida e estes recursos energéticos.

O actual modelo de desenvolvimento está dependente do uso combustíveis fósseis.

Mas será este modelo duradouro? ...