quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

A Escola e a Geoconservação

Amonite, Cabo Mondego (Fonte: www.geopor.pt)

O reconhecimento da importância do património geológico no contexto das políticas de conservação da natureza tem vindo a adquirir, nos últimos anos, um destaque nacional e internacional.

A individualização dos conceitos de Património Geológico e de Geoconservação, no seio dos temas mais abrangentes de Conservação da Natureza e do Ambiente, representa uma evolução positiva relativamente recente. Embora seja fruto de um trabalho já longo, sendo estes conceitos ainda pouco reconhecidos pela sociedade em geral e até por grande parte dos próprios agentes educativos.

A Geodiversidade é o suporte de todos os sistemas terrestres e, portanto, da Biodiversidade, sendo essencial conhecer e compreender o seu valor e o seu papel na dinâmica do nosso Planeta e na própria Vida.

Considero que este “trabalho” deve ser feito numa perspectiva integrada de abordagem científica e pedagógica, promovendo o conhecimento sobre os objectos de estudo naturais, em particular os geológicos, a sua valorização, preservação e repercussão na sociedade.

Não me parece existir uma estratégia de geoconservação nacional efectivamente suportada pelo Instituto de Conservação da Natureza – como deveria acontecer uma vez que é a instituição que tem a responsabilidade de gerir a Conservação da Natureza em Portugal. Todavia, são vários os exemplos de trabalhos desenvolvidos por diversas instituições, como é o caso do Museu Nacional de História Natural, do INETI (ex-IGM) e de grande parte dos departamentos universitários de Geologia. De uma forma geral, estas instituições não só têm conseguido proceder a uma inventariação de geossítios, mas também têm dinamizado acções de divulgação de alguns aspectos do património geológico e assim contribuído para a geoconservação.

Mas, independentemente do trabalho do ICN, Museus ou Institutos, considero que um elemento chave para a geoconservação está nas escolas. Não serão os nossos alunos agentes por excelência para a conservação e divulgação no nosso património? Claro que sim. Basta que lhes sejam dados os conhecimentos e as ferramentas para isso.

Se analisarmos os curricula do ensino básico e até do secundário constatamos que, nos conteúdos de geologia, o ênfase é feito sobre a geodiversidade (tipos de rochas, minerais, formas de relevo, etc), esquecendo quase sempre a geoconservação. O mesmo já não se passa em relação à biodiversidade e sua conservação, que são amplamente trabalhadas. Sendo a geodiversidade o suporte de todos os sistemas terrestres tal falha será, no mínimo, incoerente.

Enquanto isto acontece, o estado de conservação de muitos dos nossos geossítios é preocupante.

Sabendo que estamos em plena Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (2005-2014), parece-me ser o momento ideal para integrar a geoconservação nos curricula escolares. Mas haverá vontade, ou condições, para que tal se realize?...

Se através da escola os alunos receberem conhecimentos sobre a nossa geodiversidade, tiverem oportunidade de visitar alguns geossítios e lhes for lançado o desafio de elaborar certos trabalhos sobre eles, de certeza que conseguimos que sejam competentes nos domínios do Saber saber, Saber fazer, Saber estar. E, desta forma, damos um passo decisivo para a geoconservação em Portugal.

Sem comentários: