domingo, 2 de setembro de 2007

A vida na zona intertidal em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina

"Algumas partes das rochas são mais altas do que outras. Isto quer dizer que a água do mar não chega a todos os sítios. Outras partes ficam quase sempre debaixo de água, menos na altura das marés baixas das águas vivas, e nessa altura ficam expostas, embora por pouco tempo. Isto cria na praia rochosa seis zonas que são afectadas pela água de maneiras diferentes. Nós chamamos ao conjunto destas zonas o grande espaço do litoral".
Mike Weber e Ana Ferreira em "Descobrir as poças de maré" (Fundação do Litoral da Aguda





Anémona (Anemonia sulcata - forma verde)


Perceves, mexilhões, lapas, algas, Balanus sp., ....


Anémonas (anémona uniforme - Actinia equina; anémona "pintalgada" - Actinia fragacea)

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Liberalismo e ambiente ...

Considero que a perspectiva liberal relativamente às questões de ambiente pode ser observada de várias formas: por um lado para certos liberais o estado tem limites bem definidos, mas (deve) assegurar a realização de determinadas funções básicas, que protegem os membros da sociedade uns dos outros (ou de outras "ordens sociais"). Neste contexto é de destacar as funções ligadas à manutenção da defesa, da ordem pública interna e na regulamentação de um sistema de mercado baseado no princípio de posse de propriedades privadas.

Por outro lado, outra "visão" liberalista defende um papel mais benevolente do estado sobre a vida privada dos cidadãos de uma sociedade, de forma a assegurar que a sociedade progrida e a situação dos seus membros melhore com o tempo.

Independentemente das visões, constata-se que na maioria dos casos, em particular nas economias ocidentais, existe uma elevada dependência da “força” do trabalho e das trocas em larga escala. Por sua vez, sempre que se tenta “atacar” um problema ambiental a medida com a qual se baseiam todas as decisões é a dimensão em que certas alterações afectam os seres humanos. Na maioria dos casos, as medidas que tentam alterar o comportamento humano apenas moderam o problema, pois muitas das restrições à actividade humana propostas pelo “ecologismo” podem prejudicar os interesses dos próprios seres humanos.

Parece-me que por um lado o "pensamento liberal" não envolve o reconhecimento de obrigações para com seres que não os humanos. E por sua vez o "pensamento ecológico" não se insere facilmente na perspectiva liberal e levanta problemas em relação aos valores e aos pressupostos do "pensamento liberal".

Mas a sociedade hoje está diferente pelo que a perspectiva liberal sobre o ambiente também pode ser vista de uma forma diferente. Neste contexto destaco a “abordagem “custo-benefício” que cada vez mais faz parte da estratégia das empresas. Por exemplo: a criação do comércio de “licenças de poluição” permite às empresas que reduzem a produção de resíduos venderem as suas licenças a outras empresas que excedam os níveis autorizados. Desta forma, as empresas mais eficientes na utilização dos recursos e na introdução de sistemas de redução de resíduos e de controlo da poluição reduzem as despesas, enquanto que, as empresas que continuam a poluir têm custos mais elevados.

Este sistema ao nível da economia de mercado cria incentivos para que os vários intervenientes actuem de determinada formas.

Se tivermos em consideração a existência de uma “macrotendência ambiental” será que esta visão do liberalismo fornece algumas bases para a sustentabilidade?

Educação ambiental e democracia ...

Existe, no nosso país, uma contradição entre o papel do indivíduo como cidadão, constitucionalmente definido, e o papel desse mesmo indivíduo como agente activo das tomadas de decisão organizacionais, sejam estas estatais ou empresariais privadas.

Educar para a problemática ambiental, em todas as suas variadas vertentes, desde a recolha selectiva de materiais recicláveis ao controlo das actividades poluidoras, e passando pela adesão às diferentes infraestruturas, não é a mesma coisa que fazer publicidade. Não é convencer ou persuadir. Não é obrigar, nem forçar.

De certa forma, é o mesmo que ensinar/aprender a ler e a escrever. É dar/receber outros instrumentos e modelos de acção. É criar um outro cidadão, que pensa e age de outra maneira. A problemática ambiental tem esta componente especial: não basta que as pessoas saibam o que fazer, é preciso que façam.

A Educação Ambiental é um processo que visa formar uma população mundial consciente e preocupada com o Ambiente e com os seus problemas, uma população que tenha os conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de compromisso, que lhe permitam trabalhar individual e colectivamente na resolução das dificuldades actuais, e impedir que elas se apresentem de novo.

Um dos objectivos da educação ambiental é o de ajudar os indivíduos e os grupos sociais a desenvolver sentido de responsabilidade e sentimento de urgência, que garantam a tomada de medidas adequadas à resolução dos problemas do ambiente.

Em educação ambiental um dos instrumentos de trabalho mais importantes é o trabalho de projecto. O trabalho de projecto permite desenvolver o pensamento através de situações problemáticas, espelho de situações reais, que se tornam vias de abertura pedagógica a vários percursos e a várias soluções.

De referir que a abordagem prática do trabalho de projecto tem como principio um método de trabalho que requer o empenhamento de cada indivíduo, dentro do grupo, de acordo com as suas capacidades, com vista ao estudo de um problema e à procura de soluções para o mesmo. Proporciona situações em que é fundamental trocar opiniões para decidir o que fazer, facilitando deste modo a socialização, e, particularmente, a apropriação ou internalização, em sentido lato, de valores democráticos indispensáveis ao estilo ambiental de educação.

Neste contexto, parece-me que a educação ambiental desempenha um papel importante nas aprendizagens para a democracia. Por exemplo, na escolha do tema para uma acção/projecto de educação ambiental os alunos envolvem-se muitas vezes em discussões de temas polémicos. Desta forma, não só se destaca o potencial cognitivo de cada um, como é possível colocar os alunos em situações de troca de ideias (potenciando a comunicação oral e escrita), a escuta e leitura/análise critica, o respeito pelos outros. Durante a implementação das acções os alunos envolvem-se na preparação e na sua execução, exercendo uma verdadeira democracia participativa.

Deste modo, a educação ambiental não é apenas uma "forma" de educação (uma "educação para...") entre tantas outras; não é simplesmente uma "ferramenta" para a resolução de problemas ou de gestão do ambiente. Trata-se de uma dimensão essencial da educação que diz respeito a uma esfera de interacções que está na base do desenvolvimento pessoal e social: a da relação com o meio em que vivemos.

A educação ambiental pretende induzir dinâmicas sociais, de início na comunidade local e, posteriormente, em redes mais amplas de solidariedade, promovendo a abordagem colaborativa e crítica das realidades sócio-ambientais e uma compreensão autónoma e criativa dos problemas que se apresentam e das soluções possíveis para eles.

Que efeitos terão as macrotendências no Ambiente?

Considerando a existência de uma “macrotendência ambiental” verifica-se que a componente ambiente é transversal às macrotendências identificadas por Naisbitt. De certa forma o ambiente é uma importante fonte para a mudança do tecido social. Por exemplo: o crescimento económico tem sido construído à custa de certos recursos, com o destaque para os combustíveis fósseis; do ponto de vista científico assiste-se hoje a uma verdadeira era da biotecnologia; do ponto do vista social.

Neste sentido tentei identificar e reflectir um pouco sobre algumas destas relações:

- O crescimento económico tem gerado ao longo da história enormes prejuízos no ambiente;

O crescimento industrial como causa da poluição das águas e do ar.

A não contabilização dos custos da poluição nos cálculos dos custos de produção.

As consequências sobre o Ambiente de algumas formas de intervenção humana, como por exemplo: o contínuo desbravar de terras para a agricultura; a afectação de terras tradicionalmente agrícolas para usos urbanos/industriais; o esgotamento dos solos por culturas intensivas; a interferência da construção de barragens e das técnicas de impermeabilização dos solos no ciclo da água; a expansão urbanística tem gerado problemas graves ao nível do ordenamento do território assim como consequências ecológicas: efluentes, lixos, concentração de gases; etc.

- O esgotamento dos recursos conduz limite ao crescimento económico, de acordo com o modelo dominante (desde o início do século XX). São vários os processos que conduzem a este esgotamento: a procura de alimentos para uma população em constante crescimento e a consequente dizimação das espécies e esgotamento dos solos; a necessidade da gestão do crescimento demográfico tendo em atenção o nível dos recursos existentes; as consequências da degradação ambiental na viabilidade do desenvolvimento: esgotamento dos produtos primários e deterioração da capacidade de desenvolvimento dos países de origem desses produtos; os padrões de consumo dos países desenvolvidos com grandes exigências em gastos de matérias-primas não renováveis conduzem ao esgotamento desses recursos; por sua vez, emerge a procura de novos materiais para substituir os já esgotados com o consequente aumento da poluição.

Fonte: http://www.informaction.org/images/graph_popgrowth1.gif

- Hoje, é relativamente consensual a necessidade de se proceder a uma redefinição dos modelos de desenvolvimento: o desenvolvimento sustentável.

Tornou-se urgente a necessidade de repensar os modelos de desenvolvimento e progresso económico para todo o planeta e não só para certas áreas. A inter-relação entre ambiente-economia-sociedade é encarada como o factor chave para a sustentabilidade

Por sua vez, é de extrema importância encontrar formas de gestão dos «bens comuns» (Oceanos, Antártida, etc) que, sem porem em causa as soberanias nacionais, garantam a sua conservação.

As questões ecológicas devem assim constituir uma base de entendimento e de partilha entre países em vez de gerar tensão política pela disputa de certos recursos. Veja-se o exemplo do acordo para a redução ao buraco do ozono. Num curto período de tempo os esforços de vários países conduziram a um processo de inversão do problema, que se pensar vir a estar resolvido dentro de poucos anos.

Questão ambiental: Moda ou Macrotendência?

A degradação do ambiente, o esgotamento dos recursos, a redução da biodiversidade, são alguns dos graves problemas que se põem ao mundo actual com tal intensidade que levam muita gente a interrogar-se sobre o futuro do nosso planeta.

Foi na conferência de Estocolmo em 1972 que, pela primeira vez, foi dado o grande alerta à escala planetária sobre o fim suicidário a que estava a conduzir o crescimento exponencial da economia internacional. De então para cá a opinião pública mundial, os governos e os agentes económicos têm tomado cada vez mais consciência da crise ambiental que afecta o globo terrestre. Apesar de a conferência de Estocolmo ter assumido o direito das gerações futuras a usufruírem um ambiente saudável e equilibrado, nos últimos anos tem sido veloz o agravamento do estado crítico do ambiente. A questão põe-se com particular acuidade, porquanto já não se trata apenas de combater malefícios do crescimento. Hoje, é cada vez mais nítida a consciência de que o próprio desenvolvimento pode ser posto em causa pela crescente degradação ambiental.

Considero que, desde os anos 60 do século XX, com a crise ambiental que o paradigma ambiental começou a sofrer uma alteração. De uma forma geral começou a haver uma preocupação colectiva com os problemas ambientais, e o movimento associativo começou a ganhar força.

Aproveitando a ocasião, numa primeira fase, a questão ambiental talvez tenha sido encarada pela opinião pública como uma moda.

Hoje em dia, considero que a questão ambiental assume-se como uma macrotendência no sentido que lhe é atribuído por Naisbitt (Naisbitt, J. (1988), Macrotendências, Presença). Por um lado os problemas ambientais são problemas globais, afectam todo o planeta, por outro lado, as causas para esses problemas são transversais (e comuns) à maioria dos países.

Esta “macrotendência ambiental” pode ser analisada por vários elementos:

- O crescimento económico tem gerado ao longo da história enormes prejuízos no ambiente;

- O esgotamento dos recursos conduz limite ao crescimento económico, de acordo com o modelo dominante;

- Hoje, é relativamente consensual a necessidade de se proceder a uma redefinição dos modelos de desenvolvimento: o desenvolvimento sustentável. A urgência em encontrar formas de gestão dos «bens comuns» — Oceanos, Antártida, outros espaços — que, sem porem em causa as soberanias nacionais, garantam a sua conservação. Neste contexto destaco o papel das tecnologias no desenvolvimento das sociedades.

Poluição do rio Alviela, uma longa história ...

São várias as notícias que relatam situações graves de poluição no rio Alviela: “Mega-descarga mata peixes no Rio Alviela” – Sol, 12 de Janeiro de 2007; Nova descarga de químicos no rio Alviela mata centenas de peixes. Poluição causada pela Etar de Alcanena” – Agência Lusa, 12 de Fevereiro de 2006; Dezenas de peixes mortos no Alviela”. Diário de Notícias, 26 de Julho de 2004.

As causas para a poluição do Alviela estão bem identificadas e são as indústrias de curtumes da região e o mau funcionamento da ETAR de Alcanena, para onde são lançados os efluentes das indústrias de curtumes. Esta situação tem vindo a arrastar-se há vários anos.

De referir que a indústria dos curtumes é uma das mais antigas e tradicionais do País. Uma parte significativa da sua produção destina-se à indústria do calçado. Segundo dados do Instituto dos Resíduos cerca de 75% das empresas de curtumes com actividade de fabrico situam-se na região de Lisboa e Vale do Tejo, mais propriamente em Alcanena. Existem actualmente cerca de 70 empresas de curtumes a funcionar na região.

É interessante verificar que já em 1957, foi criada a CLAPA, Comissão de Luta Anti Poluição do Alviela, sendo legalizada em 1976.


Mais curioso é verificar que em 30/5/1730 a Câmara de Torres Novas publica uma postura em que proíbe a lavagem dos coiros na fonte de Vila Moreira. Este é o primeiro documento anti-poluição publicado na zona, e significa, além do mais, que a actividade de lavagem era importante. Se o não fosse, certamente a Câmara não lhe daria importância. Está publicada em “O Alviela” a queixa de um industrial de Vila Moreira dirigida à rainha D. Maria I por ter sido multado por falta de cumprimento desta portaria.

Como se constata a situação demora em ser resolvida. O sistema de saneamento, que foi construído e entrou em funcionamento durante a década de 90, parecia resolver o problema, mas a estação de tratamento de águas residuais deixou de trabalhar em condições há vários anos. Desde então, passou a verificar-se uma cor escura no rio e a registar-se, com frequência, o aparecimento de muitos peixes mortos.

Mais uma vez, em 11 de Janeiro do presente ano, foi possível voltar a assistir a uma descarga de grandes dimensões devido a uma avaria eléctrica de cerca de 12 horas e que causou uma elevada poluição no rio e a mortandade de centenas de peixes. Nesse dia, numa notícia da Lusa, Firmino Oliveira, presidente da Junta de Freguesia de Vaqueiros e membro da Comissão Mista de Luta Anti-Poluição do Alviela, afirmava "…Nós, que vivemos nas zonas ribeirinhas, estamos mais uma vez a sofrer sem culpa nenhuma". A água revelava uma cor escura, cheiro fétido e manchas de espuma à superfície. Este autarca equipara esta situação aos piores tempos de poluição e diz mesmo que se regrediu 30 anos. À reportagem de “”O Ribatejo”, Firmino Oliveira, mostrou lamas retiradas do leito do rio em que diz haver acumulação de metais perigosos e que exalam um cheiro pestilento. Explicou ainda que a Comissão Mista para a Despoluição do Alviela se encontra inactiva devido à incapacidade de reunir as partes envolvidas. foi entregue uma petição na Assembleia da República e nem sequer foi agendada”. O cenário é de sucessivas descargas, tornando este problema crónico.

Fonte: http://www.youngreporters.org/article-imprim.php3?id_article=1871

Mas, para quando a resolução deste problema ambiental?

Todos sabemos que a água é um bem precioso indispensável à vida. Nesta caso, é importante realçar que a nascente dos Olhos de Água do Alviela, que tem uma bacia de alimentação estimada em 180 km2, constituiu uma das principais origens de abastecimento de água à cidade de Lisboa. Em 1880 foi construído um aqueduto com cerca de 120 km de extensão que permitiu o transporte diário máximo de 70.000 m3 desde esta nascente até à capital, aos quais se juntavam 30.000 m3 da Ota e 60.000 m3 de Alenquer.

A água está actualmente no centro de uma crise sem precedentes que tem por principais factores o aumento da população, a poluição, a insuficiente gestão dos recursos hídricos, alterações climáticas, entre outros factores. Mas também como é sublinhado no Relatório Mundial sobre a Água, sobre a escassez da água no mundo, esta crise deve-se também à inércia política e à falta de uma tomada de consciência das populações.

O problema da poluição do Alviela arrasta-se há muitos anos, até quando vamos ficar à espera …

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Berlengas - património cultural

Lugar sagrado onde no primeiro milénio antes de Cristo se celebrava o culto de Baal-Melkart, esta ilha de Saturno, assim lhe chamavam os historiadores da antiguidade, encerra dentro de si pequenas estórias que contribuem para a história de um povo, que se confundem com o imaginário. Dos romanos restam cepos de âncoras perdidas nos fundos do mar e outros vestígios; dos vikings, as histórias dos seus ataques a embarcações comerciais. Vieram os piratas ingleses, vieram os mouros, e novamente os ingleses. E, nos Descobrimentos, foi no mar das Berlengas que capturaram a nau de Garcia Dias, vinda da Índia.
No ano de 1513, os monges da Ordem de S. Jerónimo fundaram na ilha o Mosteiro da Misericórdia, que lhes serviu de retiro durante 35 anos. Durante esse período, a tranquilidade e isolamento procurados pelos monges foram muitas vezes violentamente interrompidos pelos ataques dos corsários, que saqueavam o convento e capturavam os monges para com eles abastecerem o mercado de escravos do Norte de Africa. Assim, apenas 35 anos após a sua chegada, Dona Catarina ordenou a transferência dos monges para o continente. Deste convento chegaram aos dias de hoje apenas leves vestígios.


Depois do abandono, o mosteiro da Berlenga caiu em ruínas, dele restando apenas alguns muros e pedras soltas. No seu lugar, perto do cais, foi construído o actual Restaurante Mar e Sol.
Sendo a ilha, pela sua localização, um excelente posto de defesa do território Português, foi mandado erguer pelo rei D. João IV de Portugal, a Fortaleza S. João Baptista, que viria a ser palco de batalhas, das quais se celebrizou o ataque do castelhano Diogo Ibarra. Atacado e bombardeado durante dois dias, acabou o forte por ser tomado pelos Castelhanos. A guarnição Portuguesa, que resistiu mais do que humanamente parecia possível, era comandada pelo Cabo Avelar Pessoa. Estava-se no ano de 1666.
Ao longo de quase dois séculos este forte esteve envolvido em diversas estratégias militares com destaque para as guerras com Castela, as invasões francesas e as disputas entre Miguelistas e Liberai, até que em 1847 acabou por ser abandonado, tendo sido recuperado para servir como pousada em 1962. Actualmente serve de abrigo aos visitantes que aí desejem pernoitar.



Para além do forte destaca-se na ilha o seu farol construído em 1841 na parte mais alta da ilha, com 29 metros de altura, que pode ser avistado a mais de 45 quilómetros de distância.

Património natural e cultural, uma fantástica paisagem, paz e alguma aventura fazem da visita a este rochedo, de granito rosado-avermelhado, uma viagem obrigatória.

Bibliografia:
www.icn.pt
www.naturlink.pt

Reserva Natural das Berlengas, uma Reserva Biogenética do Conselho da Europa repleta de natureza selvagem ...






"Carreiro dos cações"





"As buzinas"

Reserva Natural das Berlengas ou o Reino das Gaivotas?

O Arquipélago das Berlengas situa-se a 5.7 milhas do Cabo Carvoeiro, e é constituído por três grupos de ilhéus: Berlenga Grande e recifes adjacentes, Estelas e, um pouco mais distante, Farilhões - Forcadas.
O arquipélago fica situado na Plataforma Continental da fachada oeste da Península Ibérica junto da cidade de Peniche.
A ilha da Berlenga, a maior do arquipélago é constituída essencialmente por rochas eruptivas nomeadamente granitos. É um espaço de uso público, sujeito às normas legais da Reserva Natural. Existe uma área de servidão militar, localizada em volta do farol da Berlenga.
Todo o arquipélago assenta na plataforma continental da costa Portuguesa com profundidade de cerca de 50 metros, no entanto um pouco a norte dos Farilhões o fundo oceânico desce abruptamente até aos 1200 metros, facto que se deve à presença de um extenso vale submarino orientado para NE na direcção da Nazaré vulgarmente conhecido como o canhão submarino da Nazaré. A origem deste vale está relacionada com fenómenos tectónicos na orla Mesozóica Portuguesa, nomeadamente com os movimentos da crosta terrestre ocorridos ao largo da costa oeste da Península Ibérica. É testemunho da abertura do Atlântico.

Gaivota-argêntea-de-patas-amarelas e Corvo-marinho

A separação do Arquipélago das Berlengas do resto do continente deu-se durante o Jurássico. As ilhas formam unidades geográficas muito particulares, em que a interferência do exterior é bastante reduzida. Por esta razão certas espécies, em particular as que têm menor mobilidade, como as plantas ou alguns vertebrados terrestres, ficam sujeitos a pressões selectivas diferentes das populações que ficaram no continente, sendo por isso o resultado da evolução quase sempre diferente nos dois locais.
As Berlengas assumem um papel importante para as aves, sob duas vertentes: por um lado como suporte de nidificação para aves marinhas, e por outro como local de paragem e repouso para aves migratórias. As Berlengas situam-se numa zona de transição biogeográfica, pelo que algumas das espécies que aqui nidificam encontram-se no limite Sul da sua área de distribuição e outras no seu limite Norte.

Como espécies nidificantes destacam-se o corvo-marinho-de-crista ou galheta (Phalacrocorax aristotelis) constrói o seu ninho nas prateleiras rochosas das falésias junto ao mar, em locais praticamente inacessíveis ao Homem. São amplamente conhecidos os seus dotes de mergulhador, assim como o seu voo característico junto à água. A população nidificante de pardela-de-bico-amarelo (Calonectris diomedea) apenas permanece na Berlenga durante o período de reprodução. Estas aves são facilmente reconhecidas pelo voo planado e pelas suas vocalizações. Nidificam em buracos na terra ou em cavidades nas rochas e neles colocam apenas um ovo.


Semelhante a um pequeno pinguim, o airo (Uria aalge) é o símbolo da Reserva Natural da Berlenga. Ave de voo rápido, alimenta-se principalmente de peixes, mas também de crustáceos e moluscos. Vive habitualmente em colónias e cada indivíduo deposita o seu único ovo em pequenas prateleiras nas escarpas. Outrora numerosos, a sua população na ilha contava nos anos trinta com cerca de 6000 casais, mas ao longo das últimas décadas sofreu um decréscimo que já quase os levou à extinção.
São ainda nidificantes, a gaivota-de-asa-escura (Larus fuscus) e a gaivota-argêntea-de-patas-amarelas (Larus cachinnans), a qual possui o estatuto de praga. Para responder a este problema, a Reserva levou a cabo, durante a década de noventa, uma polémica campanha de controle, que passava pelo abate de muitos indivíduos. Tudo leva a crer que o factor que levou a este crescimento populacional foi a existência de lixeiras no continente, que perduraram até meados da década de 90 do século XX, as quais forneciam quantidades ilimitadas de alimento às Gaivotas. Assim, com alimento abundante, em Peniche, e disponibilidade de abrigo nas Berlengas, a situação na ilha tornou-se insustentável. De referir que a gaivota-de-patas-amarelas é uma espécie oportunista de grande plasticidade adaptativa e competitiva, utilizando quase todo o tipo de alimentos, e com um elevado potencial reprodutor, pelo que facilmente atinge proporções de praga, tal como se verificou neste caso.
No que diz respeito à flora entre as cerca de 100 espécies que podemos encontrar nas Berlengas encontram-se três espécies endémicas: a Armeria berlengensis, a Herniaria berlengiana e a Pulicaria microcephala. Mas este elevada riqueza encontra-se hoje bastante ameaçada pela presença de animais herbívoros, como o rato-preto e o coelho, pela competição com espécie vegetais invasoras exóticas, como o Chorão, que cobre vastas porções da ilha, e pela nitrificação do solo, causada pelos excrementos da excessiva população de gaivotas.

Bairro dos pescadores. É possível observar as encostas cobertas por chorão, uma espécie exótica invasora.

Quem visita hoje esta Reserva Natural assiste a uma certa degradação do património natural da Ilha em prol de uma exagerada população de gaivotas. Certos locais da ilha parecem desertos, não há vegetação. Por sua vez, a presença de tão elevado número de gaivotas chega a intimidar os visitantes.

A importância das Berlengas enquanto ecossistema insular, o valor biológico da área marinha envolvente, o elevado interesse botânico, o papel da ilha em termos de avifauna marinha e a presença de interessante património arqueológico subaquático foram outros tantos factores que pesaram na classificação do arquipélago (Decreto-Lei nº 264/81, de 3 de Setembro) como Reserva Natural.

Mas com as pragas do Chorão e das Gaivotas não será tempo de salvarmos tão importante património natural e cultural?



Gaivota-argêntea-de-patas-amarelas (Larus cachinnans)



No reino das gaivotas ...

Bibliografia:
www.icn.pt
www.naturlink.pt
www.georoteiros.pt