O arquipélago fica situado na Plataforma Continental da fachada oeste da Península Ibérica junto da cidade de Peniche.
A ilha da Berlenga, a maior do arquipélago é constituída essencialmente por rochas eruptivas nomeadamente granitos. É um espaço de uso público, sujeito às normas legais da Reserva Natural. Existe uma área de servidão militar, localizada em volta do farol da Berlenga.
A separação do Arquipélago das Berlengas do resto do continente deu-se durante o Jurássico. As ilhas formam unidades geográficas muito particulares, em que a interferência do exterior é bastante reduzida. Por esta razão certas espécies, em particular as que têm menor mobilidade, como as plantas ou alguns vertebrados terrestres, ficam sujeitos a pressões selectivas diferentes das populações que ficaram no continente, sendo por isso o resultado da evolução quase sempre diferente nos dois locais.
As Berlengas assumem um papel importante para as aves, sob duas vertentes: por um lado como suporte de nidificação para aves marinhas, e por outro como local de paragem e repouso para aves migratórias. As Berlengas situam-se numa zona de transição biogeográfica, pelo que algumas das espécies que aqui nidificam encontram-se no limite Sul da sua área de distribuição e outras no seu limite Norte.
Como espécies nidificantes destacam-se o corvo-marinho-de-crista ou galheta (Phalacrocorax aristotelis) constrói o seu ninho nas prateleiras rochosas das falésias junto ao mar, em locais praticamente inacessíveis ao Homem. São amplamente conhecidos os seus dotes de mergulhador, assim como o seu voo característico junto à água. A população nidificante de pardela-de-bico-amarelo (Calonectris diomedea) apenas permanece na Berlenga durante o período de reprodução. Estas aves são facilmente reconhecidas pelo voo planado e pelas suas vocalizações. Nidificam em buracos na terra ou em cavidades nas rochas e neles colocam apenas um ovo.
Semelhante a um pequeno pinguim, o airo (Uria aalge) é o símbolo da Reserva Natural da Berlenga. Ave de voo rápido, alimenta-se principalmente de peixes, mas também de crustáceos e moluscos. Vive habitualmente em colónias e cada indivíduo deposita o seu único ovo em pequenas prateleiras nas escarpas. Outrora numerosos, a sua população na ilha contava nos anos trinta com cerca de 6000 casais, mas ao longo das últimas décadas sofreu um decréscimo que já quase os levou à extinção.
São ainda nidificantes, a gaivota-de-asa-escura (Larus fuscus) e a gaivota-argêntea-de-patas-amarelas (Larus cachinnans), a qual possui o estatuto de praga. Para responder a este problema, a Reserva levou a cabo, durante a década de noventa, uma polémica campanha de controle, que passava pelo abate de muitos indivíduos. Tudo leva a crer que o factor que levou a este crescimento populacional foi a existência de lixeiras no continente, que perduraram até meados da década de 90 do século XX, as quais forneciam quantidades ilimitadas de alimento às Gaivotas. Assim, com alimento abundante, em Peniche, e disponibilidade de abrigo nas Berlengas, a situação na ilha tornou-se insustentável. De referir que a gaivota-de-patas-amarelas é uma espécie oportunista de grande plasticidade adaptativa e competitiva, utilizando quase todo o tipo de alimentos, e com um elevado potencial reprodutor, pelo que facilmente atinge proporções de praga, tal como se verificou neste caso.
No que diz respeito à flora entre as cerca de 100 espécies que podemos encontrar nas Berlengas encontram-se três espécies endémicas: a Armeria berlengensis, a Herniaria berlengiana e a Pulicaria microcephala. Mas este elevada riqueza encontra-se hoje bastante ameaçada pela presença de animais herbívoros, como o rato-preto e o coelho, pela competição com espécie vegetais invasoras exóticas, como o Chorão, que cobre vastas porções da ilha, e pela nitrificação do solo, causada pelos excrementos da excessiva população de gaivotas.
Quem visita hoje esta Reserva Natural assiste a uma certa degradação do património natural da Ilha em prol de uma exagerada população de gaivotas. Certos locais da ilha parecem desertos, não há vegetação. Por sua vez, a presença de tão elevado número de gaivotas chega a intimidar os visitantes.
Mas com as pragas do Chorão e das Gaivotas não será tempo de salvarmos tão importante património natural e cultural?
Sem comentários:
Enviar um comentário