quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Educação ambiental e democracia ...

Existe, no nosso país, uma contradição entre o papel do indivíduo como cidadão, constitucionalmente definido, e o papel desse mesmo indivíduo como agente activo das tomadas de decisão organizacionais, sejam estas estatais ou empresariais privadas.

Educar para a problemática ambiental, em todas as suas variadas vertentes, desde a recolha selectiva de materiais recicláveis ao controlo das actividades poluidoras, e passando pela adesão às diferentes infraestruturas, não é a mesma coisa que fazer publicidade. Não é convencer ou persuadir. Não é obrigar, nem forçar.

De certa forma, é o mesmo que ensinar/aprender a ler e a escrever. É dar/receber outros instrumentos e modelos de acção. É criar um outro cidadão, que pensa e age de outra maneira. A problemática ambiental tem esta componente especial: não basta que as pessoas saibam o que fazer, é preciso que façam.

A Educação Ambiental é um processo que visa formar uma população mundial consciente e preocupada com o Ambiente e com os seus problemas, uma população que tenha os conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de compromisso, que lhe permitam trabalhar individual e colectivamente na resolução das dificuldades actuais, e impedir que elas se apresentem de novo.

Um dos objectivos da educação ambiental é o de ajudar os indivíduos e os grupos sociais a desenvolver sentido de responsabilidade e sentimento de urgência, que garantam a tomada de medidas adequadas à resolução dos problemas do ambiente.

Em educação ambiental um dos instrumentos de trabalho mais importantes é o trabalho de projecto. O trabalho de projecto permite desenvolver o pensamento através de situações problemáticas, espelho de situações reais, que se tornam vias de abertura pedagógica a vários percursos e a várias soluções.

De referir que a abordagem prática do trabalho de projecto tem como principio um método de trabalho que requer o empenhamento de cada indivíduo, dentro do grupo, de acordo com as suas capacidades, com vista ao estudo de um problema e à procura de soluções para o mesmo. Proporciona situações em que é fundamental trocar opiniões para decidir o que fazer, facilitando deste modo a socialização, e, particularmente, a apropriação ou internalização, em sentido lato, de valores democráticos indispensáveis ao estilo ambiental de educação.

Neste contexto, parece-me que a educação ambiental desempenha um papel importante nas aprendizagens para a democracia. Por exemplo, na escolha do tema para uma acção/projecto de educação ambiental os alunos envolvem-se muitas vezes em discussões de temas polémicos. Desta forma, não só se destaca o potencial cognitivo de cada um, como é possível colocar os alunos em situações de troca de ideias (potenciando a comunicação oral e escrita), a escuta e leitura/análise critica, o respeito pelos outros. Durante a implementação das acções os alunos envolvem-se na preparação e na sua execução, exercendo uma verdadeira democracia participativa.

Deste modo, a educação ambiental não é apenas uma "forma" de educação (uma "educação para...") entre tantas outras; não é simplesmente uma "ferramenta" para a resolução de problemas ou de gestão do ambiente. Trata-se de uma dimensão essencial da educação que diz respeito a uma esfera de interacções que está na base do desenvolvimento pessoal e social: a da relação com o meio em que vivemos.

A educação ambiental pretende induzir dinâmicas sociais, de início na comunidade local e, posteriormente, em redes mais amplas de solidariedade, promovendo a abordagem colaborativa e crítica das realidades sócio-ambientais e uma compreensão autónoma e criativa dos problemas que se apresentam e das soluções possíveis para eles.

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